CRÍTICA | Hijos del Desierto: "Uma obra de época marcante, regida por um triângulo amoroso intenso, vilões asquerosos e um desfecho surpreendente"
Por: Hiago Júnior 13:50:00 #Crítica , crítica , destaque , recentes
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Jorge Arecheta, Marijo Weigel e Gastón Salgado em foto promocional de "Hijos del Desierto". Créditos: Mega |
Finalizada na primeira semana de junho de 2023 no Chile através do canal MEGA, "Hijos del Desierto" termina sua trajetória com uma verdadeira salva de palmas. A trama de época que narra o drama de dois irmãos separados na infância e que apaixonam-se pela mesma mulher, dividiu a opinião do público e garantiu uma boa discussão sobre o verdadeiro sentido da palavra liberdade.
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Enquanto o mundo vive tempos conturbados em plena segunda guerra mundial, surge uma história de amor que coloca em confronto direto dois irmãos que desconhecem a consanguinidade, e tudo piora quando Dra. Eloísa González, uma mulher afrente de seu tempo desperta o amor nos dois irmãos, um o oposto do outro.
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Criada por Patricio Heim (Pacto de Sangre) e Simón Soto (Demente), a trama mergulha no drama psicológico e familiar para oferecer ao telespectador uma gama de situações conflitantes que colocam em dúvida a opinião pública. Afinal de contas, quem deve ficar com a Dra. Eloísa?
Com 163 capítulos, o roteiro de 'Hijos del Desierto' recorre muito bem ao contexto histórico para criar o clímax central da obra. Ambientada na Valparaíso chilena, o script se passa em plena pós 1ª guerra mundial e período que adentra na 2ª Guerra Mundial, o que cede espaço para a aproximação da elite com os alemães e abre uma lacuna para dialogar com argumentações clássicas, assim como respeita o modus operandi da época. A divisão classista é bem evidente, e neste sentido o roteiro é eficaz na criação de núcleos que mostrem o contraste entre pobres versus ricos. E quando digo que a temática é bem alinhada com o tempo-espaço, a figura da mulher de subserviência e "adorno" aos homens é também explanada ao máximo, tendo justamente a protagonista como uma personagem que fura essa "bolha"; ao graduar-se como médica e abrir um abismo na pequena cidade onde reside. O clero é outro ponto bastante utilizado pela equipe de roteiristas, afinal de contas a igreja e sua voz altiva foi parte fundamentalista das escolhas em plena 2ª guerra.
Contudo a maior eficácia do roteiro é justamente o seu triângulo amoroso e a rede de vilões que fundamentam a história. Separados na infância após a morte de seus pais, os irmãos Gaspar e Pedro cresceram em mundos diferentes, enquanto o primeiro foi adotado pelos assassinos de seus pais, o segundo teve sua infância roubada pela delinquência. Adultos, a vida de ambos voltam a se cruzar, Gaspar agora um policial retorna ao Chile para tentar reduzir os assaltos e a horda de terror que assola a pequena Valparaíso, que por consequência é dominada por Pedro Ramírez, seu irmão. E como desgraça pouca é bobagem, los hermanos acabam apaixonando-se pela mesma mulher, Eloísa.
O enredo do triângulo amoroso é bem singular, onde inclusive é possível criar afeição por ambos pretendentes em algum momento. Contudo o guión logo é direcionado para outro cenário onde somente um dos irmãos torna-se a escolha coerente da protagonista, o que logo expõe a opinião do televidente, porém o desfecho apresentado vai justamente na contramão. Um grande acerto da produção.
Vilões sanguinários
E como em toda proposta do gênero novela, o desfecho é radicalmente atrelado as ações dos vilões. E amigos, que vilões! "Hijos del Desierto" é um meandro de almas podres. A começar por Antonia e Gregorio, os pais adotivos de Gaspar, seguidos por Cornellius, Herr Braun, El Panda, Hipólito Cárdenas, entre outros - que fazem da vida de Pedro e seus amigos, um verdadeiro inferno.
São eles o combustível que fazem a teleserie andar, dada as inúmeras inserções que trazem ao entorno dos protagonistas, em especial Pedro, o principal alvo. Mortes, assédio, violência física e psicológica, tentativas de estupro e manipulação da opinião pública são apenas algumas das armas utilizadas por eles.
Temas tabus
Embora seja uma novela de época, ela oferece dramas que dialogam com a discussão política, assim como temas densos como o aborto e o suicídio. Devidas as proporções, a teleserie é cruel quando precisa.
Direção
Encabeçada por Patricio González (Casa de Muñecos, Juegos de Poder e Demente) a assinatura do diretor é alinhada com o suspense dramático e seus traumas. Ele não tem medo de apostar em cenas pesadas, carregadas de catástrofes e que exigem dos atores uma alta carga dramática. A comicidade é quase inerte no projeto, que foge a todo instante desse tipo de abordagem, tendo praticamente nenhum alívio cômico.
Atuação
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Falar de dramatização chilena é sempre um deleite. Extremamente bem dirigida, escrita e atuada, todos, sem demagogia, todos os personagens são bem construídos e atuados. Porém entre o que é bom, sempre é possível destacar quem se sobressai. Gastón Salgado, por exemplo é um ator que entrega mais que o necessário para Pedro Ramírez em sua volta às teleseries. Ao seu lado está a jovem Marijo Weigel e toda a experiência de Jorge Arecheta Fernández, conjunto que abraça o belo contraste cênico do triângulo amoroso. Os vilões também só elogios, escalações coerentes: Rodrigo Soto, Marcelo Alonso, Guilherme Sepúlveda, Paola Volpato, Francisco Melo e Roberto Farias entregam uma essência malévola, porém com camadas de essência distintas, pois cada personagem enfrenta seus próprios demônios e escondem segredos únicos.
Curiosidade
A trilha sonora de "Hijos del Desierto" ou melhor a composição instrumental é assinada por Toygar Işıklı, compositor responsável pelas criações musicais de várias séries turcas, "Yargi", "Alev Alev" e "Ask-i Memnu" por exemplo são obras suas. O drama chileno marca o seu retorno as teleseries do país após resultados elogiáveis em "Perdona Nuestros Pecados" e "Juegos de Poder".
Vale o meu play?
Se você é um fã de produções de época que mergulham seu drama fictício em cenários históricos reais então "Hijos del Desierto" é uma boa escolha. Agora se você é fã de uma boa novela latina que fuja dos estereótipos tradicionais, ela também é uma escolha assertiva. Fuja dela se o trivial for o que mais te encanta nas telenovelas.
"Hijos del Desierto" está disponível no Brasil através do YouTube, no canal oficial do MEGA através da assinatura premium da plataforma membros da emissora.
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Primeiras Impressões | Todas as Garotas em Mim
Por: Gabriel Gainsbourg 17:51:00 #Crítica , #Séries , crítica , recentes , séries

Personagem Mirela, interpretada pela Mharessa Fernanda
(Créditos: Record TV)
Na última terça (07), estreou a série "Todas as Garotas em Mim" na Record TV. Uma série que conta a história de Mirela, uma influenciadora digital que, com a ajuda da avó, começa a rever a sua vida, tendo como base as mulheres das histórias bíblicas.
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A história poderia ser bem explorada, afinal de contas é uma premissa interessante, mas a forma como vem sendo apresentada não tem contribuído. A série até mescla o contemporâneo, tenta conversar com ambos públicos, mas no fundo não é nada mais do que uma série bíblica por baixo de uma série "moderna". Nem parece a mesma Record TV que já produziu novelas de qualidade, como "Chamas da Vida".
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Mas voltando a "TAGEM", nem mesmo uma simples quebra da quarta parede se salva. Foram algumas vezes que aconteceu, mas destaco uma delas, quando a personagem Mirela vira para a câmera e diz que é apaixonada pela série "Reis". E se teve uma hora pra enfiar a cabeça na terra, essa hora foi quando Ísis, a avó de Mirela disse que as mulheres não eram tão oprimidas na época da bíblia. O que não faz sentido, convenhamos.
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Acredito que você esteja se perguntando "Mas e a audiência?". Bem, está bem abaixo. A série está perdendo para "Poliana Moça" e a reprise de "Carinha de Anjo", ambas do SBT. Consequentemente, derruba as atrações seguintes, como a novela "Amor Sem Igual", que já não está com uma boa audiência, mas viu o que tinha de audiência cair ainda mais.
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Para se ter uma noção, não se via tal situação desde a novela "Máscaras", de 2012. Quando anunciaram que iriam intercalar "Reis" e "TAGEM" entre suas temporadas, somente isso já deu para reparar o despreparo e a falta de planejamento. Não é a toa que a chamam de "Malhação bíblica". Se a Record quiser fazer uma trama que todos tenham bons olhos ao assistir, comentar e divulgar, vai precisar mudar muita coisa, é preciso sentar, repensar e tentar reverter esse atual cenário, nada favorável.
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CRÍTICA | Si nos Dejan: "Produção de Carlos Bardasano, evidencia que viver o amor sem medo é a melhor resposta contra o preconceito"
Por: Hiago Júnior 18:00:00 #Crítica , #EmEquipe , crítica
Créditos: Televisa S.A / W Studios. |
A Univision levou ao ar ontem, 11 de outubro, o último capítulo de 'Si Nos Dejan' adaptação moderna da clássica e vanguardista 'Señora Isabel' do começo dos anos 90.
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Créditos: Televisa S.A / W Studios |
Estrelada por Mayrin Villanueva e Marcus Ornellas, o melodrama atiça o espectador ao trazer uma composição que pode espantar os olhares mais conservadores da sociedade, e pasmem, mesmo em pleno ano de 2021. O relacionamento entre casais de idades diferentes.
A 'jogatina' da produção coloca em evidência justamente o contraponto: mulher x homem - os diferentes tratamentos que cada sexo possui na convivência com seus próximos e os preconceitos que cada um enfrenta ao assumir um amor mais jovem.
🚨 Antes de continuar lendo a crítica de 'Si nos Dejan' aproveite para ler as PRIMEIRAS IMPRESSÕES da mesma produção, sobre a primeira semana da novela.
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O texto de 'Si nos Dejan' não é recente e tampouco nada conhecido, muito pelo contrário. Baseado na obra original de Bernardo Romero e Mónica Agudelo, o script já ganhou outras versões - sendo 'Miraja de Mujer' da TV Azteca e 'Victoria' da Telemundo as revisitações mais conhecidas da obra da dupla. A versão da W Studios em parceria com a Televisa é a primeira aposta do texto na maior produtora de audiovisual na TV aberta mexicana. Projetada para ganhar as telas do Las Estrellas anos antes, a produção acabou sendo cancelada, e ganhando finalmente outra oportunidade (agora com novos atores, produtor e roteirista) somente em 2021.
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Créditos: Televisa S.A / W Studios |
O guión desta vez é assumido por Leonardo Padrón, experiente escritor de novelas venezuelano que desde 2018 atua ao lado de Carlos Bardasano na W Studios e consequentemente na Televisa. A parceria entre os dois é tão promissora, que as três obras assinadas pelo duo, ganharam notoriedade no mercado internacional.
Leonardo Padrón cria uma ambientação somente sua ao redor dos protagonistas e seus elos, a condução é limpa e até original. Aliás, por mais que se trate de um remake, é preciso reconhecer que quase nada desta versão é 'copia e cola' das anteriores. Novos núcleos são acrescentados, personagens suprimidos, novas problemáticas, romances e até importantes pontos de decisão divergem - além é claro de toda a inclusão social que a trama revela ao longo dos capítulos, como a abordagem do cyberbullying vivido pela personagem Miranda (Isidora Vives) e o assédio sexual e moral vivenciado por Fedora (Gabriela Spanic) e Karina (Lore Graniewicz). Os assuntos desenvolvidos são os mais diversos possíveis e tudo é apresentado de forma coesa com o tempo-espaço que a trama abraça.
A equipe de roteiro é composta ainda por Vicente Albarracín (Rubí, la serie), Carlos Eloy Castro (Amar a muerte), Karla Sanz de la Peña (Caminos de Guanajuato) e Valentina Sequera - que juntos alimentam as esperanças de um amor igualitário, mesmo em face de uma sociedade machista e hipócrita. Em suma, o desarrollo é bem coerente, salvo o baixo aproveitamento de alguns personagens como Chela (Ara Saldivar), Yaya (Mónica Sánchez Navarro) e Chiquis (Natália Payan) que funcionaram apenas como as 'melhores' amigas e/ou funcionárias.
Escritor e produtor, Carlos Bardasano é a alma da novela. Com sua mão firme e pesada contra as críticas, ele soma mais um sucesso em seu currículo. Atualmente desenvolvendo a nova versão de 'Los Ricos También Lloran', Bardasano, agora Presidente de Conteúdos da W Studios é enfático ao 'pilotar' uma trama singular, onde a vilania é praticamente os percalços da vida. Os imbróglios jurídicos, a violência de gênero, a ascensão midiática e o desamor são temperos acrescentados em doses homeopáticas ao longo da trama, que em 83 capítulos, praticamente DESENHA ao público que é possível SIM, amar mesmo em idades diferentes.
A direção corre a cargo do trio, Luiz Manzo, Carlos Cock Marin e Pavel Vazquez que (coincidentemente) trabalharam juntos em outras obras ao lado de Bardasano e Leonardo Padrón. Esse revés familiar é o ingrediente que alimenta a direção, aliás, vale destacar o equilíbrio e a contemporaneidade direcional da trama, que navega por assuntos complicados e de extremo valor social, sem extrapolar o limite do aceitável e tampouco deixar o folhetim com cara de 'telecurso'.
Manzo, Cock e Vazquez ainda introduzem um universo totalmente diferente das produções anteriores composta pela mesma equipe técnica, é fácil notar que os elementos presentes em 'Si nos Dejan' se opõem aos de 'Amar a Muerte', 'El Dragón' e 'Rubí' que se nutrem muito mais do suspense e ação do que o romance - em primeiro plano. O jogo cênico da direção de cena contrasta bem com a direção de câmeras e vice-versa, que por sua vez, também usa e abusa de uma boa relação com o roteiro e a produção executiva.
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Um fator que contribui em 'Si nos Dejan' é o elenco enxuto, são poucos atores e graças a esse direcionamento muitos personagens conseguiram ter suas histórias retratadas de forma harmoniosa. Contudo alguns merecem destaque.
Créditos: Televisa S.A / W Studios. |
Após viver a vilã Sandy de 'Quererlo Todo', Scarlet Gruber aceitou o desafio de interpretar Julieta Lugo, uma jovem jornalista fútil, ambiciosa e disposta a destruir o casamento de seu colega de trabalho. Embora poucos dias separem as duas personagens é necessário dizer que ambas são completamente diferentes, seja em entonação, gesticulação, vestimenta e até modo de agir. E o mérito é todo de Scarlet que soube criar camadas e distinguir as vilãs, principalmente por conta da escalação de Alexis Ayala, seu par romântico em 'Si nos Dejan' que por 'coincidência da Televisa' era seu pai em 'Quererlo Todo'.
Créditos: Televisa S.A / W Studios |
Assim como Gruber, Alexis Ayala é um destaque positivo. E aqui cabe o mesmo motivo, Artemio Cabrera e Sergio Carranza são dois vilões separados por dias, mas que possuem elementos completamente distintos. Sim, ambos até possuem singularidade em alguns aspectos, como o assédio psicológico contra suas esposas, mas é possível notar o destempero de Sergio em virtude dos ciúmes e sua carreira como jornalista do principal telejornal do México, enquanto Artemio atua muito mais para manter o controle da cidade em suas mãos. Inclusive, Ayala não era o primeiro nome para viver o antagonista e sim, Eduardo Yáñez, que acabou deixando a novela poucos dias antes do início das gravações. Uma substituição bem assertiva.
É importante destacar, que o casal de vilões Sergio e Julieta, não são exagerados. São pessoas que existem no nosso cotidiano, com atos que, mesmo errados, são comuns em nossa sociedade.
Alex Perea estava há três anos vivendo Manuel Montero na série 'Sin Miedo a la Verdad' disponível no Brasil através da Globoplay quando finalmente voltou para as novelas como 'El Cholo', um dos coadjuvantes de 'Si Nos Dejan' e ao lado de Isabel Burr deu vida a um dos casais mais interessantes do melodrama. Um relacionamento 'nada aceitável' entre uma advogada e seu cliente, preso e acusado de assassinato.
O desenvolvimento do casal é repleto de idas e vindas, o que compete a pareja, uma torcida pertinente por parte do público. Separados, Yuri e El Cholo são completamente distintos, o que pode até estranhar a princípio, mas é totalmente compreensível dado as circunstâncias e vivências de cada um. Aliás, Yuri é uma personagem altamente ambígua, suas mudanças constantes de temperamento e opiniões, travam uma luta contra seu posicionamento como advogada e defensora das causas feministas, atitude muitas vezes até colocada em evidência nos embates com sua mãe, Alicia. El Cholo, por sua vez, é justamente o contrário, defende suas ideias sempre com a mesma linha de pensamento. Condenado injustamente, busca redenção e justiça, amparado sempre por belas palavras e posicionamentos. O que leva uma fácil aceitação do público com seu personagem.
Outro grande acerto que fez o público se apaixonar pelo casal Yuri e Cholo, é a sua trilha sonora. As cenas do casal sempre são embaladas pela música "Si Nos Dejan", de Ara Saldivar (como mencionado, também presente no elenco da novela), que também funciona como o tema de encerramento da trama.
O maior acerto em termos de desenvolvimento e entrega é o de Mónica Dionne como Rebecca, que vive uma das melhores amigas de Alicia (Mayrin Villanueva). Introduzida na trama logo no início, suas participações se resumiam quase sempre em conversas ao lado de Alicia e Fedora, em busca de soluções para os relacionamentos fracassados das amigas, porém com o andar dos capítulos seu enredo deu um giro de 360º. Diagnosticada com Alzheimer precoce, o mundo da então professora universitária acaba tornando-se um poço de emoções, com cenas carregadas de drama e teor social, Rebecca agora vive de fragmentos de memória, e enquanto esquece os amores de sua vida, ainda precisa lutar contra o medo de ver sua vida se apagar aos poucos. E tudo sutil, humano e cumpre o papel de entreter e informar através da emoção de admirar um amor que morre e nasce todos os dias entre Fabían (Henry Zakka) e Rebecca.
A moral e os bons costumes são bem representados pela figura moralista, elitista e hipócrita de Doña Eva (Susana Dosamantes). Machista e presa no 'século passado' a personagem entrega boas cenas de humor ácido, na mesma proporção que fere com seus diálogos recheados de preconceitos. E não perdoa ninguém, seu único amor é seu vício em jogos de azar. Patologia que esconde de todos, enquanto vive destilando ódio e rancor por onde passa. E lógico, Susana entrega tudo e muito mais em cena. Ao mesmo tempo que somos cativados pelo carisma de Susana, vamos a odiando cada vez mais, graça a Doña Eva e seus ideais.
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Créditos: Televisa S.A / W Studios |
O retorno de Gabriela Spanic as novelas após quase 10 anos afastada se mostrou bastante positivo. Fedora não é protagonista, não é vilã e tampouco uma simples coadjuvante, mas o brilho de sua personagem é bem válido e notório. Ela não é somente uma das melhores amigas de Alicia, longe disso, a personagem apresenta uma das melhores composições cênicas e autorais da novela. Cabe a Fedora dois grandes temas: a violência doméstica e o assédio psicológico - que ela cumpre eximiamente bem. Spanic transporta o pavor e medo para a tela e muito dessa condição é por conta de José María Galeano (Samuel) o seu abusador. A frieza é notada no olhar. Gabriela Spanic ainda é bem aproveitada nas poucas cenas ao lado de Gonzalo (Carlos Said), envolvimento retratado na novela como errado, mas que de errado, não tem absolutamente nada. Inclusive, esse é um dos poucos erros da trama, o romance mal aproveitado entre Fedora e Gonzalo, um casal que, mesmo com poucas cenas e separados, ganharam o carisma e a torcida do público. Não faltaram reclamações à separação dos personagens. A falta deste enlace amoroso é compensado pelo amor incondicional com suas amigas e os embates entre Fedora e Doña Eva. Seu desfecho é digno, livre e dona de si.
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Créditos: Televisa S.A / W Studios |
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Créditos: Televisa S.A / W Studios |
Uma pareja apaixonante e com fãs extremamente fervorosos, tanto que a cada tentativa de separar o casal, o público sofria e a resposta era imediata nas redes sociais. A pedra no sapato era tratada como inimigo pelo público, não importava quem seja.
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"Si nos Dejan" é uma novela encantadora, que apesar de uma narrativa até relativamente lenta, entrega um conteúdo verossímil e cativante. Os seus 83 capítulos não deixam espaço para longas insinuações e a temida 'barriga', com isso abre-se espaço para relacionamentos críveis, de pessoas que erram e acertam, de personagens que pregam o ódio e relativizam o machismo. Ademais, a produção de Carlos Bardasano é uma trama curta, simpática e satisfatória; que encerra sua exibição na Univision de forma consagrada, garantindo tanto sucesso de audiência quanto de repercussão. É uma novela sobre escolhas, uma novela sobre mudanças e sobretudo, uma novela sobre amor.
Em tempo!
No dia 01 de novembro o melodrama estreia no México, em horário nobre, às 21h30 (23h30) horário de Brasília). Quer outra boa notícia? A trama já se encontra em processo de dublagem aqui no Brasil pela Rio Sound, e em breve deve estrear na tela do SBT.
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Escrito por Hiago Júnior com a colaboração de Abner Taciano.
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Primeiras Impressões | Si Nos Dejan: Família perfeita? Que nada! Traição, machismo e a busca por mudanças através da perspectiva de um belo texto latino
Por: Hiago Júnior 00:47:00 #Crítica , crítica
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Mayrín Villanueva e Marcus Ornellas, os protagonistas de 'Si Nos Dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
Após uma tentativa frustrada de reviver o texto colombiano de 'Señora Isabel' a Televisa enfim conseguiu colocar no ar o projeto, agora nas mãos de outra equipe e com mais qualidade. Com o título de 'Si nos dejan' a trama é uma coprodução da W Studios com a Televisa, e igualmente 'Tres Veces Ana' de Angelique Boyer ganhou sua estreia primeiramente nos Estados Unidos através da Univision.
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Mayrín Villanueva e Marcus Ornellas em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
No ar desde primeiro de junho, a obra baseada no texto original dos escritores Mónica Agudelo e Bernardo Romero o melodrama apresenta uma releitura bastante significativa, contextualizada e com boa inserção midiática. Acompanhei os oito primeiros capítulos e trago agora as minhas primeiras impressões da novela, crítica onde elenco os erros e acertos da produção.
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Mayrín Villanueva e Marcus Ornellas em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
História
Alicia acredita ter a família perfeita, um casamento de conto de fadas, filhos íntegros, mas seu castelo desmorona quando ela descobre que seu marido com quem é casada a 25 anos a trai com sua colega de trabalho, muitos anos mais jovem. Contra todas as probabilidades, Alicia decide mudar a direção da sua vida e pela primeira vez viver para si e não para os outros. E nessa mudança acaba conhecendo Martín, um jornalista bem mais jovem e que está perdidamente apaixonado por ela. E neste novo caminho além de enfrentar muitos obstáculos e preconceitos, principalmente da família e amigos, Alicia terá que acreditar no seu potencial profissional, na possibilidade de viver um novo amor e encontrar em si a mulher adormecida.
Baseada na original colombiana de 1993 criada por Mónica Agudelo e Bernardo Romero, 'Si nos dejan' leva atualização para televisão dos roteiristas Vicente Albarracín (Relaciones Peligrosas), Carlos Eloy Castro (La mujer perfecta), Karla Sanz de la Peña (Caminos de Guanajuato) e Valentina Sequera e criação final de Leonardo Padrón, escritor venezuelano responsável pelos êxitos 'Rubí, la serie' e 'Amar a Muerte'.
E sim, o roteiro é muito bem trabalhado. Talvez seja o belo entrosamento da equipe que já trabalhou junta em outras ocasiões, ou até mesmo o talento nato. A premissa da novela é justamente mostrar o machismo enraizado na sociedade e evidenciar a figura da mulher nesta mesma sociedade hipócrita que permeou a Colômbia e agora é destaque no México, e que apesar do salto de quase 30 anos ainda permanece com trejeitos preconceituosos de um passado não tão distante.
É estranho, confesso ver um homem, chefe de família, famoso e de classe média alta ter em suas falas atos tão misóginos e neste sentido o texto não peca, pois evidencia justamente esse contraponto. Sergio é um homem escroto, que trai a mulher e pouco se importa se ela está bem, quer mesmo é manter o status e poder perante a sociedade e amigos. Esse mesmo pensamento também vale para Eva, a mãe da protagonista que vive em um mundo paralelo e de subserviência onde a mulher é apenas um objeto ao bel prazer masculino.
A sagacidade e inteligência do roteiro é dada pela misticidade entre o retrógrado e a contemporaneidade, vide a consonância entre os citados com a personagem Fedora, por exemplo, uma mulher de meia idade que vive para si e seus prazeres, desligada do mundo de preconceitos que a cerca.
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Scarlet Gruber como Julieta, sua vilã em 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A |
Direção
Conduzida pela mesma equipe da W Studios responsável pelas obras 'Amar a Muerte', 'El Dragón' e 'Rubí' a direção de cena e câmeras fica a cargo do trio Carlos Cock, Luis Manzo e Pável Vázquez. Fresca e coerente, a liderança direcional soma-se ao belo texto de Leonardo Padrón numa entrega proeminente. É fluido, limpo e transmite verdade - tanto que é fácil criar ranço e apreço pelos personagens através de uma simples troca de cena. Uma condição bem complicada principalmente por conta da sequela da novela ser apenas uma traição e não mortes, vingança e outros argumentos folhetinescos comuns. Outro fator que merece destaque na direção é a versatilidade da equipe que diferentemente das outras produções citadas, oferece um trabalho muito distinto e que foge das narconovelas e também dos dramas rasgados com protagonistas ferozes e dominantes.
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Abertura
Confira a abertura oficial de #SiNosDejanUS pic.twitter.com/TpxsxQVrBZ
— Sua maior fonte de notícias (@FebreLatina) June 10, 2021
Claramente simples no sentido de não apresentar a história, a entrada é uma mistura de efeitos de transição em demasia com takes dos personagens em momentos aleatórios. No entanto a canção tema é interessante, não casa perfeitamente com a novela, é um fato, mas atua harmonicamente bem. Belinda e Christian Nodal interpretam adequadamente a canção que já foi sucesso na voz de Luis Miguel, porém não é nada fora do comum. Cumpre seu papel.
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Natália Payan e Scarlet Gruber em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
Atuações, destaques e desenvolvimento
Assim como em toda novela algumas atuações acabam destacando-se perante outras, e neste sentido cabe também as escalações, que tanto podem ajudar como atrapalhar - pois um bom personagem precisa de um bom ator para transmitir veracidade. Com um elenco basicamente jovem, Si nos dejan peca em algumas escalações, mas não pelo excesso e muito provavelmente pelo zelo. Gravada em plena pandemia de Covid-19, a trama não foca, por exemplo, na aquisição de atores mais velhos para interpretar avós e pais de personagens com idades consideráveis. Esse casamento fica estranho no vídeo, mas nada que uma alusão a viagem folhetinesca não ajude.
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Susana Dosamantes em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
Eva de Montiel é uma mulher presa no passado, que vive para enaltecer a figura do homem em detrimento das aparências de uma família perfeita. Causa repulsa, ódio e desperta a ira, principalmente pelo ano em que a personagem é apresentada. Estamos em 2021 e ela vive no século passado, colocando a filha em situações inverossímeis, degradantes e humilhantes. Um trabalho difícil que Susana Dosamantes abraçou friamente e justamente por conseguir difundir esse desprezo ao público que ela é sinônimo de aplausos, sinal de que está atingindo o objetivo.
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Paco Luna em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
Cenário bem diferente do personagem de Paco Luna que não decolou e tampouco teve enredo. Culebra até aparenta ter um núcleo interessante e que pode render, haja visto o possível envolvimento nada convencional com Miranda e o cenário dos gamers, porém até o presente momento o jovem ator não teve nada significativo a seu favor. E justiça seja feita, Paco é um bom profissional, seus papéis em 'Ringo' e 'Vencer el Desamor' falam por si só.
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Gabriela Spanic e Mayrín Villanueva em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
O fortíssimo elo de amizade entre Fedora e Alicia é um dos pontos mais altos e desenvolvidos da telenovela, é tão fascinante observar uma amizade que foge dos padrões, enquanto Alicia é toda preocupada com sua imagem e família, Fedora é o oposto e mesmo com esse cenário, a amizade é duradoura e sólida.
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Scarlet Gruber e Alexis Ayala em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A |
Scarlet Gruber é um dos grandes nomes da novela nestes primeiros capítulos, Julieta Lugo é a essência da inveja e cobiça, que não mede esforços para destruir quem está no seu caminho. Petulante, joga com todos, mesmo carregando consigo uma fragilidade latente, uma caça por aceitação. Quer ser linda, ter sucesso e os homens aos seus pés. Scarlet é só elogios, após viver Sandy e suas 1000 fases em 'Quererlo Todo' a atriz pode novamente colocar em evidência seu talento, além de garantir a entrada de seu nome no topo do escalão de jovens atrizes da Televisa.
Alexis Ayala que também veio de 'Quererlo Todo' onde interpretou precisamente o pai de Scarlet, também entrega uma atuação consideravelmente boa. Uma substituição de última hora no elenco que foi muito bem aceita. Não imagino outro ator como Sergio Carranza.
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Gabriela Spanic em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
Gabriela Spanic é sem dúvidas o segundo grande nome de 'Si nos dejan'. Longe das novelas desde meados de 2012/2013, Gaby fez por merecer o papel de Fedora. Expressiva, engraçada e com teor ácido - é a mente sã da novela, dona de diálogos precisos, diretos e de muita coesão. Aliás o desenvolvimento de Fedora só tende a melhorar após o envolvimento amoroso com Gonzalo, o filho de sua melhor amiga.
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Mónica Dionne, Mayrín Villanueva e Gabriela Spanic em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A |
E por falar em Fedora, Rebecca, sua amiga inseparável é outro acerto doce e leve da novela. Mónica Dionne ao lado de Gabriela Spanic e Mayrín são o triângulo de amigas que deu certo na vida. É muito vibrante acompanhar os diálogos das três quando se reúnem para fofocar.
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Isabel Burr e Álex Perea em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
Yuri e Cholo é outro grande acerto da novela em mais uma probabilidade fora do usual, onde a advogada se apaixona pelo cliente, um suposto assassino. Inclusive aqui vale uma ressalva, Alex Perea tem tudo para postular como o maior destaque dentre todo o elenco masculino com o desenvolvimento dos capítulos, enquanto Isabel Burr segue no mesmo caminho. É um casal com liga, química, shippe e tudo mais.
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Mayrín Villanueva e Isabel Burr em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
Ara Saldivar assim como Paco Luna também não teve grande destaque, uma excelente atriz com um desenvolvimento quase nulo. Chela Ortega poderia ser muito mais que a melhor amiga de Yuri ou a jornalista do escritório com pouca evidência. É muito recente para cobranças, mas a personagem merece um delineamento mais enfático. Isso sim.
Carlos Said e Isidora Vives apesar da boa apresentação de seus personagens não se destacaram tanto nestes primeiros capítulos. Gonzalo teme ser visto como uma ovelha negra pela família e Miranda pensa justamente o contrário, pouco se importa. Esse jogo de aparências pode e deve ser aproveitado e trabalhado, pois deve render um confronto bem interessante com o andar da estória.
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Scarlet é o maior destaque dos primeiros capítulos de 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
Marcus Ornellas esteve bem nos capítulos já apresentados, seu protagonista é brando, quieto e busca a justiça a sua maneira. Não exige muito do ator. Mayrín Villanueva, a exemplo de seu parceiro de cena também segue (ok), porém numa sequência de cenas importantes e que exigem dela uma atuação bem mais expressiva. O problema pode surgir no futuro com o excesso de drama e lamentações, sem uma busca significativa por mudanças no campo afetivo e profissional, cenário que funcionaria como um peso extra para a personagem já tão sofrida.
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'Si nos dejan' tem todos os predicados possíveis para ser outro grande sucesso da parceria entre W Studios e Televisa, pode chegar a vários países, ganhar as janelas de streaming e tudo mais. Como diz o ditado: "O futuro a Deus pertence" e as linhas já começaram a ser escritas.
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