Mayrín Villanueva e Marcus Ornellas, os protagonistas de 'Si Nos Dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
Após uma tentativa frustrada de reviver o texto colombiano de 'Señora Isabel' a Televisa enfim conseguiu colocar no ar o projeto, agora nas mãos de outra equipe e com mais qualidade. Com o título de 'Si nos dejan' a trama é uma coprodução da W Studios com a Televisa, e igualmente 'Tres Veces Ana' de Angelique Boyer ganhou sua estreia primeiramente nos Estados Unidos através da Univision.
Mayrín Villanueva e Marcus Ornellas em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
No ar desde primeiro de junho, a obra baseada no texto original dos escritores Mónica Agudelo e Bernardo Romero o melodrama apresenta uma releitura bastante significativa, contextualizada e com boa inserção midiática. Acompanhei os oito primeiros capítulos e trago agora as minhas primeiras impressões da novela, crítica onde elenco os erros e acertos da produção.
Mayrín Villanueva e Marcus Ornellas em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
História
Alicia acredita ter a família perfeita, um casamento de conto de fadas, filhos íntegros, mas seu castelo desmorona quando ela descobre que seu marido com quem é casada a 25 anos a trai com sua colega de trabalho, muitos anos mais jovem. Contra todas as probabilidades, Alicia decide mudar a direção da sua vida e pela primeira vez viver para si e não para os outros. E nessa mudança acaba conhecendo Martín, um jornalista bem mais jovem e que está perdidamente apaixonado por ela. E neste novo caminho além de enfrentar muitos obstáculos e preconceitos, principalmente da família e amigos, Alicia terá que acreditar no seu potencial profissional, na possibilidade de viver um novo amor e encontrar em si a mulher adormecida.
Baseada na original colombiana de 1993 criada por Mónica Agudelo e Bernardo Romero, 'Si nos dejan' leva atualização para televisão dos roteiristas Vicente Albarracín (Relaciones Peligrosas), Carlos Eloy Castro (La mujer perfecta), Karla Sanz de la Peña (Caminos de Guanajuato) e Valentina Sequera e criação final de Leonardo Padrón, escritor venezuelano responsável pelos êxitos 'Rubí, la serie' e 'Amar a Muerte'.
E sim, o roteiro é muito bem trabalhado. Talvez seja o belo entrosamento da equipe que já trabalhou junta em outras ocasiões, ou até mesmo o talento nato. A premissa da novela é justamente mostrar o machismo enraizado na sociedade e evidenciar a figura da mulher nesta mesma sociedade hipócrita que permeou a Colômbia e agora é destaque no México, e que apesar do salto de quase 30 anos ainda permanece com trejeitos preconceituosos de um passado não tão distante.
É estranho, confesso ver um homem, chefe de família, famoso e de classe média alta ter em suas falas atos tão misóginos e neste sentido o texto não peca, pois evidencia justamente esse contraponto. Sergio é um homem escroto, que trai a mulher e pouco se importa se ela está bem, quer mesmo é manter o status e poder perante a sociedade e amigos. Esse mesmo pensamento também vale para Eva, a mãe da protagonista que vive em um mundo paralelo e de subserviência onde a mulher é apenas um objeto ao bel prazer masculino.
A sagacidade e inteligência do roteiro é dada pela misticidade entre o retrógrado e a contemporaneidade, vide a consonância entre os citados com a personagem Fedora, por exemplo, uma mulher de meia idade que vive para si e seus prazeres, desligada do mundo de preconceitos que a cerca.
Scarlet Gruber como Julieta, sua vilã em 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A |
Direção
Conduzida pela mesma equipe da W Studios responsável pelas obras 'Amar a Muerte', 'El Dragón' e 'Rubí' a direção de cena e câmeras fica a cargo do trio Carlos Cock, Luis Manzo e Pável Vázquez. Fresca e coerente, a liderança direcional soma-se ao belo texto de Leonardo Padrón numa entrega proeminente. É fluido, limpo e transmite verdade - tanto que é fácil criar ranço e apreço pelos personagens através de uma simples troca de cena. Uma condição bem complicada principalmente por conta da sequela da novela ser apenas uma traição e não mortes, vingança e outros argumentos folhetinescos comuns. Outro fator que merece destaque na direção é a versatilidade da equipe que diferentemente das outras produções citadas, oferece um trabalho muito distinto e que foge das narconovelas e também dos dramas rasgados com protagonistas ferozes e dominantes.
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Abertura
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Claramente simples no sentido de não apresentar a história, a entrada é uma mistura de efeitos de transição em demasia com takes dos personagens em momentos aleatórios. No entanto a canção tema é interessante, não casa perfeitamente com a novela, é um fato, mas atua harmonicamente bem. Belinda e Christian Nodal interpretam adequadamente a canção que já foi sucesso na voz de Luis Miguel, porém não é nada fora do comum. Cumpre seu papel.
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Natália Payan e Scarlet Gruber em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
Atuações, destaques e desenvolvimento
Assim como em toda novela algumas atuações acabam destacando-se perante outras, e neste sentido cabe também as escalações, que tanto podem ajudar como atrapalhar - pois um bom personagem precisa de um bom ator para transmitir veracidade. Com um elenco basicamente jovem, Si nos dejan peca em algumas escalações, mas não pelo excesso e muito provavelmente pelo zelo. Gravada em plena pandemia de Covid-19, a trama não foca, por exemplo, na aquisição de atores mais velhos para interpretar avós e pais de personagens com idades consideráveis. Esse casamento fica estranho no vídeo, mas nada que uma alusão a viagem folhetinesca não ajude.
Susana Dosamantes em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
Eva de Montiel é uma mulher presa no passado, que vive para enaltecer a figura do homem em detrimento das aparências de uma família perfeita. Causa repulsa, ódio e desperta a ira, principalmente pelo ano em que a personagem é apresentada. Estamos em 2021 e ela vive no século passado, colocando a filha em situações inverossímeis, degradantes e humilhantes. Um trabalho difícil que Susana Dosamantes abraçou friamente e justamente por conseguir difundir esse desprezo ao público que ela é sinônimo de aplausos, sinal de que está atingindo o objetivo.
Paco Luna em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
Cenário bem diferente do personagem de Paco Luna que não decolou e tampouco teve enredo. Culebra até aparenta ter um núcleo interessante e que pode render, haja visto o possível envolvimento nada convencional com Miranda e o cenário dos gamers, porém até o presente momento o jovem ator não teve nada significativo a seu favor. E justiça seja feita, Paco é um bom profissional, seus papéis em 'Ringo' e 'Vencer el Desamor' falam por si só.
Gabriela Spanic e Mayrín Villanueva em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
O fortíssimo elo de amizade entre Fedora e Alicia é um dos pontos mais altos e desenvolvidos da telenovela, é tão fascinante observar uma amizade que foge dos padrões, enquanto Alicia é toda preocupada com sua imagem e família, Fedora é o oposto e mesmo com esse cenário, a amizade é duradoura e sólida.
Scarlet Gruber e Alexis Ayala em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A |
Scarlet Gruber é um dos grandes nomes da novela nestes primeiros capítulos, Julieta Lugo é a essência da inveja e cobiça, que não mede esforços para destruir quem está no seu caminho. Petulante, joga com todos, mesmo carregando consigo uma fragilidade latente, uma caça por aceitação. Quer ser linda, ter sucesso e os homens aos seus pés. Scarlet é só elogios, após viver Sandy e suas 1000 fases em 'Quererlo Todo' a atriz pode novamente colocar em evidência seu talento, além de garantir a entrada de seu nome no topo do escalão de jovens atrizes da Televisa.
Alexis Ayala que também veio de 'Quererlo Todo' onde interpretou precisamente o pai de Scarlet, também entrega uma atuação consideravelmente boa. Uma substituição de última hora no elenco que foi muito bem aceita. Não imagino outro ator como Sergio Carranza.
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Gabriela Spanic em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
Gabriela Spanic é sem dúvidas o segundo grande nome de 'Si nos dejan'. Longe das novelas desde meados de 2012/2013, Gaby fez por merecer o papel de Fedora. Expressiva, engraçada e com teor ácido - é a mente sã da novela, dona de diálogos precisos, diretos e de muita coesão. Aliás o desenvolvimento de Fedora só tende a melhorar após o envolvimento amoroso com Gonzalo, o filho de sua melhor amiga.
Mónica Dionne, Mayrín Villanueva e Gabriela Spanic em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A |
E por falar em Fedora, Rebecca, sua amiga inseparável é outro acerto doce e leve da novela. Mónica Dionne ao lado de Gabriela Spanic e Mayrín são o triângulo de amigas que deu certo na vida. É muito vibrante acompanhar os diálogos das três quando se reúnem para fofocar.
Isabel Burr e Álex Perea em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
Yuri e Cholo é outro grande acerto da novela em mais uma probabilidade fora do usual, onde a advogada se apaixona pelo cliente, um suposto assassino. Inclusive aqui vale uma ressalva, Alex Perea tem tudo para postular como o maior destaque dentre todo o elenco masculino com o desenvolvimento dos capítulos, enquanto Isabel Burr segue no mesmo caminho. É um casal com liga, química, shippe e tudo mais.
Mayrín Villanueva e Isabel Burr em cena da novela 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
Ara Saldivar assim como Paco Luna também não teve grande destaque, uma excelente atriz com um desenvolvimento quase nulo. Chela Ortega poderia ser muito mais que a melhor amiga de Yuri ou a jornalista do escritório com pouca evidência. É muito recente para cobranças, mas a personagem merece um delineamento mais enfático. Isso sim.
Carlos Said e Isidora Vives apesar da boa apresentação de seus personagens não se destacaram tanto nestes primeiros capítulos. Gonzalo teme ser visto como uma ovelha negra pela família e Miranda pensa justamente o contrário, pouco se importa. Esse jogo de aparências pode e deve ser aproveitado e trabalhado, pois deve render um confronto bem interessante com o andar da estória.
Scarlet é o maior destaque dos primeiros capítulos de 'Si nos dejan'. Créditos: Televisa S.A/W Studios |
Marcus Ornellas esteve bem nos capítulos já apresentados, seu protagonista é brando, quieto e busca a justiça a sua maneira. Não exige muito do ator. Mayrín Villanueva, a exemplo de seu parceiro de cena também segue (ok), porém numa sequência de cenas importantes e que exigem dela uma atuação bem mais expressiva. O problema pode surgir no futuro com o excesso de drama e lamentações, sem uma busca significativa por mudanças no campo afetivo e profissional, cenário que funcionaria como um peso extra para a personagem já tão sofrida.
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'Si nos dejan' tem todos os predicados possíveis para ser outro grande sucesso da parceria entre W Studios e Televisa, pode chegar a vários países, ganhar as janelas de streaming e tudo mais. Como diz o ditado: "O futuro a Deus pertence" e as linhas já começaram a ser escritas.
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