Créditos - Netflix/Divulgação/Reprodução |
Saudações! "Cidade Invisível" se tornou favorita dos seriadores da Netflix em 2020, eficaz em conquistar até arrobas que sequer tinham interesse em produções nacionais dessa e de outras plataformas de streaming.
Depois das animações "Rio" e "Rio 2", o criador Carlos Saldanha deixou o carnaval carioca para fazer o que a série "Once Upon a Time" fez com os contos de fada: "Cidade Invisível" mescla lendas do folclore brasileiro a dramas e pessoas "da vida real", além da abordagem ambiental.
O sucesso também alcançou os estrangeiros e expôs a muitos brasileiros o potencial narrativo de figuras conhecidas do nosso folclore, de modo nada tosco - ao contrário da infame "Os Mutantes".
"Cidade Invisível" chama a atenção ao adaptar uma mitologia rica e comumente restrita a produções infantis. Dessa forma, incentiva o brasileiro a mergulhar na sua própria fantasia.
CHAPÉU NA CABEÇA: O boto cor-de-rosa seduz o mundo em "Cidade Invisível". Créditos - Netflix/Divulgação/Reprodução |
Sendo assim, a Cuca (que ficou conhecida no mundo através de memes) não habita o imaginário dos gringos sozinha. A mitologia brasileira volta e meia inspira histórias pensadas lá fora, com referências curiosas - sendo a maioria dessas aparições desconhecida pelo grande público.
Intitulada "Mestre das Feras" no Brasil, "BeastMaster" é baseada em um filme homônimo de 1982, por sua vez inspirado nos livros de Andre Norton. A fantasia traz o protagonista Dar, um guerreiro capaz de falar com animais.
A então estreante Emilie de Ravin como a Curupira e a atriz Samantha Healy como Iara em "BeastMaster" (1999). Créditos - Reprodução |
Na Curupira, Dar encontra uma aliada, enquanto a Iara é uma adversária. As duas são descritas na série como demônios, ou espíritos da floresta. A adaptação manteve fielmente os pés virados para trás da Curupira e a grafia original dos nomes das duas, de origem tupi.
Além de proteger os animais, a Curupira australiana também era possuidora de um beijo mortal.
Famosa por estrelar "Lost" e "Once Upon a Time", Emilie de Ravin interpretou a Curupira em seu primeiro papel. A atriz Samantha Healy viveu a Iara, personagem recorrente na segunda temporada.
"O MONSTRO DA LAGOA NEGRA" E "A FORMA DA ÁGUA" - O mito de um ser metade homem, metade peixe vivendo no rio Amazonas chegou aos ouvidos do ator e produtor William Alland durante as filmagens do célebre "Cidadão Kane" (1941).
Mais de uma década depois, as sinopses escritas por Alland - baseadas no causo - viraram o clássico "O Monstro da Lagoa Negra" (1954).
Além da mitologia tupiniquim, a história tem pitadas de "A Bela e a Fera" e com direito a ambientação na floresta amazônica... *reproduzida* em estúdios na Flórida e na Califórnia.
QUEM ME DEIXA SER UM PEIXE: lendas amazonenses dão forma a "O Monstro da Lagoa Negra" (1954) e "A Forma da Água"(2017). Créditos - Reprodução da Internet |
Em 2011, o mestre Guillermo del Toro teve sua ideia de refilmar esse clássico rejeitada pela Universal Pictures.
O cineasta mexicano, então, transformou o rascunho em mais um de seus cultuados contos de fada modernos: "A Forma da Água" (2017).
O Ipupiara seria uma das, se não a primeira lenda brasileira historicamente registrada (esse relato data do ano de 1576 e estaria se tratando, de fato, de um leão marinho).
O ser é descrito como um monstro aquático devorador de ribeirinhos e tranquilizado com oferendas.
FUSÃO: Os mitos brasileiros mesclados em Hollywood. Créditos - Reprodução da Internet |
O similar Caboclo D'Água seria um protetor anfíbio das águas do rio São Francisco, presenteado com oferendas como cachaça e tabaco.
Em "A Forma da Água", o sedutor homem-peixe de del Toro se revela não ser um tritão qualquer, mas uma divindade adorada por locais de sua região - quase como o que contam essas lendas.
Onde habitam, também estão localizadas diversas escolas de magia - e o Brasil não fica de fora.
Uma caipora no universo de Harry Potter. Créditos - Reprodução |
No site Pottermore, Rowling revelou que a escola brasileira, nomeada Castelobruxo (salve, TV Cultura) opera em um estereotipado templo inca na Floresta Amazônica.
Seres espirituais, as caiporas são as guardiãs noturnas da escola. Espevitadas, foram recusadas por Hogwarts quando Benedita Dourado - a nossa diretora - as ofereceu, para que a escola visse que o fantasma troleiro Pirraça (ignorado pelos filmes da saga) estava longe de ser um problema.
Naturalmente, nosso folclore está para a amazonense Yara Flor - a nova Mulher-Maravilha da DC - como a mitologia greco-romana é plano de fundo das aventuras de Diana de Themyscira. De cara, a estreia da guerreira expôs as ligações mitológicas de Yara com divindades indígenas.
Logo em sua primeira edição, Yara conta que Zeus foi outrora vizinho de trono do deus Tupã, deidade tupi-guarani cultuada pelos índios e também tida como um Senhor dos Trovões.
A caipora virou personagem nas histórias de Yara, acompanhando-a em uma jornada ao submundo em uma missão de resgate a amazonas capturadas por Hades. Na edição de estreia, a guerreira reclama de a Caipora ter enviado um Boitatá - a lendária serpente de fogo - para atacá-la.
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A recente edição número 1 de "Superman and Wonder Woman" trouxe divindades das crenças da tribo Kamaiurá do Alto Xingu, em Mato Grosso. Na HQ, Yara visita os irmãos Kuat (o Sol) e Iae (a Lua), que vivem em um sítio no interior de São Paulo.
Enquanto Kuat se estranha com o vilão Solaris, a Mulher-Maravilha recorre à Mula sem Cabeça de Iae para resgatar vítimas de um incêndio florestal.
Porém, esta homenagem se restringe à nomenclatura: o ser incandescente em nada se assemelha à assombrosa criatura amaldiçoada do saber popular. Primeiro, por ter uma cabeça.
Com uma super-heroína brasileira em destaque e ainda em suas primeiras aventuras nas páginas, o Universo DC só deve aprofundar ainda mais os leitores do mundo na nossa mitologia, em edições futuras.
"AKUMA-KUN" E "MAX PAYNE": Publicado entre 1963 e 1967, o mangá "Akuma-Kun" teve no elenco a figura que simboliza o folclore brasileiro - o Saci. Nomeado sashiparare (サシペレレ), o personagem também está presente no anime produzido no final da década de oitenta.
Porém, enquanto a Austrália deixou os pés do Curupira voltados para trás, o Saci-Pererê de "Akuma-Kun" sofreu uma alteração estética drástica - ao menos no anime, o personagem possui as duas pernas.
Fora isso, o gorro e o cachimbo o tornam reconhecíveis. Ao invés da carapuça, o famoso pito é a fonte dos poderes e o ponto fraco do Saci, descrito como um demônio na história.
Sua habilidades também incluem super força centrada nas pernas e, claro, o redemoinho.
Em "Akuma-Kun", o senhor dos ventos brasileiro é penúltimo de doze apóstolos que o personagem título precisa reunir. Expandindo as referências à nossa cultura, o protagonista o encontra no Brasil.
O Saci também aparece no jogo inspirado no anime.
GRANDE FINAL: O Saci no anime "Akuma-Kun". Créditos - Reprodução da Internet |
Por falar em games, o Saci também faz aparição - no melhor estilo Duende Verde - em um dos modos de "Max Payne 3".
Esverdeado e usando uma perna de pau, o personagem ganha maior poder de fogo com uma Stun Gun e algumas granadas - sendo que já é capaz de um estrago sem essas armas.
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