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ORIGEM SECRETA: Proposta de série de TV da semideusa amazona cometeu erros grotescos em 2011. Créditos - Divulgação/Reprodução da Internet |
Saudações! Recentemente, o mandaloriano Pedro Pascal brincou com um comparativo entre contracenar com o Baby Yoda e com Gal Gadot, estrela do aguardado "Mulher-Maravilha 1984". No longa, o ator vive o vilão Maxwell Lord. "Eu prefiro a Gal a qualquer outro ser no universo", afirmou Pascal.
Estaria ele incluindo uma outra atriz que encarnou a Mulher-Maravilha e com a qual também contracenou, em tempos bastante diferentes para as super-heroínas em live-action?
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Pedro Pascal vive Maxwell Lord em "WW84". Nas HQs, Lord foi assassinado pela Mulher-Maravilha. Créditos - DC Films/Atlas Entertainment/The Stone Quarry/Mad Ghost Productions/Warner Bros. Pictures |
Em 2011, Pascal atuou em uma produção falha baseada na Mulher-Maravilha. Naquele ano, a televisão americana apostava na nova adaptação em live-action da Princesa Amazona - a série "Wonder Woman".
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ARQUIVOS SECRETOS E ORIGENS: Pedro Pascal como o detetive Ed Indelicato em "Wonder Woman" (2011). Créditos - Reprodução da Internet |
Bastante antecipado, o episódio piloto sofrível acabou rejeitado pelo canal NBC. Os tempos eram tão outros que esse cancelamento, junto ao da série "Human Target" e o fim de "Smallville", fizeram o site Deadline prever que nenhuma série baseada em quadrinhos iria ao ar "pelos próximos dez anos".
Risos.
Abaixo, alguns dos cliques das gravações do episódio piloto no Hollywood Boulevard em Los Angeles, que repercutiram na época:
Nos "flagras", a Mulher-Maravilha persegue um bandido pela famosa via. As cenas - cujas gravações estão disponíveis no Youtube, bem como trechos do episódio piloto em si - seriam as primeiras da personagem na série, desenvolvida pelo produtor e roteirista David E. Kelley.
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SUPER MULHER: Além de já ter vivido mais de uma heroína, Adrianne Palicki também é autora da HQ "No Angel". Créditos - Reprodução da Internet |
Aos olhos dos público, o material já começou errando. Em 2010, a Mulher-Maravilha ganhou um novo traje pelos traços de Jim Lee nas HQs e a mudança dividiu opiniões. Abandonando o look clássico pela primeira vez, Diana de Themyscira ganhou jaqueta e calças longas e escuras.
Aparentemente, a série de David E. Kelley buscou referência nesse design em particular. Em seguida, foi forçada a alterá-lo após reclamações dos fãs:
Eis um exemplo de tentativa falha à reprodução fiel de um visual clássico das HQs - algo que "X-Men: O Filme" (2000) temia e "Homem-Aranha" (2002) soube trabalhar.
Prolífico, Kelley é conhecido por tramas de sucesso como "Ally McBeal" e a mais recente "Big Little Lies". Kelley admitiu seu desconhecimento do subgênero dos super-heróis em entrevista, ao ser questionado sobre o que teria mudado no piloto, se tivesse a chance:
O gênero era muito diferente pra mim e eu tinha muito o que aprender. Minha curva de aprendizado teria melhorado. Estou triste por não termos conseguido [...].
Em "Mortal", a australiana Megan Gale encarnaria Diana.
A atriz não só já tinha feito parte de "Smallville" e do episódio piloto de "Aquaman", série do herói também cancelada, como as HQs já faziam parte de sua vida antes de ela interpretar mais de uma personagem de suas páginas.
Em 2017, Adrianne Palicki revelou ser grande fã de quadrinhos desde a infância, citando Supergirl, Vampira (dos X-Men) e a própria Mulher-Maravilha como suas favoritas. A atriz também criou a HQ "No Angel" ao lado do irmão, Eric Palicki. Na entrevista ao BUILD, ela lembrou sua participação no piloto:
Interpretar a Mulher-Maravilha foi surreal. [A série] não foi pra frente e devo ter chorado até dormir por semanas. Mas estou bem agora, feliz que realmente estejam fazendo [o filme com Gal Gadot], e da maneira correta.
Apesar do resultado constrangedor, a versão de Palicki tinha muito para ter sido feita da maneira correta. O elenco era decente, a começar pela atriz protagonista.
David E. Kelley repetiu um vício antigo dos estúdios que apostavam em super-heróis, já não tão comum em 2011: ignorar os quadrinhos que os inspiram.
Como se tivesse tido preguiça de ler ao menos o perfil da Mulher-Maravilha - ou assistido à animação soberba de 2009 -, Kelley varreu 90% da mitologia que poderia ter usado para introduzi-la no episódio piloto, nem que fosse por flashbacks.
Ou seja, nada de Themyscira, amazonas, deuses do Olimpo ou uma jornada no Mundo dos Homens.
"Não venderei meus seios", diz ela. Exatamente o que o episódio piloto faz, com forte (e datado) apelo sensual na caracterização de Adrianne Palicki como Mulher-Maravilha.
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Para poder ter uma vida normal, Diana cria a identidade civil de "Diana Prince", também assistida pelas Indústrias Themyscira. Solitária, ela sofre por ter rompido com Steve Trevor pouco antes de decidir se tornar heroína - tudo a ver com as mulheres que David E. Kelley estava acostumado a retratar... e em nada a ver com a Mulher-Maravilha.
Nem Etta Candy, feminista à frente de seu tempo e eterna melhor amiga de Diana nas HQs, aparece para ajudá-la. Tamanha é a solidão de Diana, que seu único "amigo" no Facebook é o gato Sylvester (a estreia do Frajola em live-action).
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HASHTAG CHATEADA: Tracie Thoms, intérprete de Etta Candy, se manifesta sobre o cancelamento de "Wonder Woman". Créditos - Tracie Thoms no Twitter/Reprodução |
No episódio, Etta não é mais que a assistente pessoal de Diana na empresa. Tracie Thoms ("9-1-1") deu vida à personagem e manifestou seu descontentamento com o cancelamento da série no Twitter, na época:
Fico muito triste pela NBC ter rejeitado 'Wonder Woman'. Mas isso serve para mostrar a vocês: não há "coisa certa" nesta indústria. #chateada
Outro "aliado" de Diana é o macho muito escroto Henry Detmer (Cary Elwes, de "Jogos Mortais"). Após Diana reclamar das bonecas, Detmer lhe faz um questionamento infeliz: "É tudo por causa do Steve, não é?" O pior de tudo é que era, de fato.
Um aspecto triste da trama de teor machista e remanescente da fase tenebrosa da heroína nos quadrinhos, nos anos 1950. Pós-Segunda Guerra Mundial, a Mulher-Maravilha foi transformada em uma "mulher do lar", até ser restaurada como ícone feminista na década de 1970 pela jornalista Gloria Steinem.
Bem mais que um episódio piloto bizarro, a adaptação proposta por David E. Kelley é um desfavor histórico à heroína.
Além de machismo, o episódio também atualiza as representações racistas dos primeiros quadrinhos da Mulher-Maravilha - na trama, ela é movida pelas mortes de atletas universitários negros, "todos do gueto". Estereótipos inerentes que esmurram na cara a diversidade representada em Etta Candy, na série, uma mulher afro-americana.
Em contrapartida, Adrianne Palicki impressiona por ser uma total versão de carne e osso da Mulher-Maravilha de "Liga da Justiça Sem Limites", com a presença necessária e mesclando a bravura e a amabilidade clássicas da personagem. Contudo, a "heroína" se revela surpreendente e desnecessariamente impiedosa: aqui, ela tortura e empala os bandidos para salvar o dia.
A tortura gratuita se dá quando a Diana opta pela dor física para arrancar informações do bandido capturado, ignorando o Laço da Verdade.
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OUTROS TEMPOS: Edição da revista "TV Guide" na época, com divulgação de "Wonder Woman" no detalhe. Créditos - Reprodução da Internet |
Ainda que a Diana das HQs já não hesite tanto em tirar uma vida quanto o Batman ou o Super-Homem, a matança da Mulher-Maravilha cancelada a torna uma anti-heroína em cena e arruína a última das sequências de ação que até salvam o episódio piloto. A valer, o massacre vulgariza discussões sobre a moral da heroína, que teve sua reputação e amizade com Superman e Batman abaladas após ela matar Maxwell Lord, nos quadrinhos.
Sanguinária, a personagem aparenta ser uma paródia pobre da Mulher-Maravilha tirana e assassina do universo de Flashpoint.
Esse aspecto acaba dando razão a "vilões" que visam investigar as Indústrias Themyscira pelos métodos utilizados no combate ao crime, como o que pretende o Senador Warren, vivido por Edward Herrmann ("Gilmore Girls"). Quando Diana mata friamente em combate ou utiliza escutas ilegais em suas missões - o que é citado no episódio - faz todo sentido que esteja sendo vigiada.
No piloto, Diana tem como missão parar a produção de um suplemento que vem matando os atletas citados, criado pela vilã Veronica Cale.
A atriz Elizabeth Hurley - outra que mais tarde entraria para o Universo Cinemático Marvel, como a Morgana Le Fay de "Fugitivos" - era perfeita para interpretar Cale como a personagem foi pensada pelo criador, Greg Rucka: um "Lex Luthor" para a Mulher-Maravilha. Infelizmente, ela nada tem a fazer na história.
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Tracie Thoms como Etta Candy em "Wonder Woman". Visual da personagem foi incorporado pelas HQs nos Novos 52. Créditos - Reprodução da Internet |
As aparições de Veronica Cale se resumiram a uma ameaça (válida) de processo por ter sido acusada em público de matar os jovens, e ao desfecho anticlimático em que Diana a captura após massacrar seus capangas.
Por David E. Kelley não entender o universo buscava adaptar, os talentos das duas atrizes acabaram desperdiçados, prejudicados pelo enredo superficial.
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Abaixo, Diana representando qualquer espectador que tenha se desafiado a assistir ao piloto de "Wonder Woman", seja por curiosidade ou por ser um aficionado pela Mulher-Maravilha. Neste último caso, a experiência será bem pior.
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