Aparato do Entretenimento: CRÍTICA | Yo no creo en los hombres: "Um verdadeiro covil de vilões onde a protagonista é encurralada e luta a todo instante para sobreviver"
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CRÍTICA | Yo no creo en los hombres: "Um verdadeiro covil de vilões onde a protagonista é encurralada e luta a todo instante para sobreviver"

Adriana Louvier e Gabriel Soto em foto promocional da novela 'Yo no creo en los hombres'. Créditos: TelevisaUnivision

Quando a Televisa resolveu revisitar um clássico das novelas, "Yo no creo en los hombres" através de uma outra versão em 2014, agora sob a tutela da produtora executiva Giselle González, muitos pensaram que ainda era cedo demais. Mesmo que a última adaptação fosse datada de 1991, o texto ainda era fresco na memória do público, muito por conta da afeição com o projeto. Porém, o melodrama seguiu seu curso e ganhou o famigerado remake - que contextualizado para o tempo espaço - absorveu novos núcleos, personagens, outra narrativa, temáticas, mas tudo priorizando a essência dos anos 90.

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Gabriel Soto e Adriana Louvier em foto promocional da novela 'Yo no creo en los hombres'. Créditos: TelevisaUnivision

Exibida no Brasil pelo SBT em 1993, o remake de 1991 produzido por Lucy Orozco nunca ganhou uma reprise com o passar dos anos, tampouco teve uma versão brasileira, tal como "Cañaveral de pasiones" por exemplo e nem ganhou uma exibição da adaptação de 2014, fruto desta crítica. Para entender melhor a trama estrelada por Adriana Louvier é preciso esmiuçar a telenovela, sendo assim, siga comigo e acompanhe a minha crítica de "Yo no creo en los hombres (2014)".


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Adriana Louvier em pôster promocional da novela 'Yo no creo en los hombres'. Créditos: TelevisaUnivision

Conheça a sinopse. Detalhe: esse texto contêm spoilers 🚨

María Dolores é uma menina pobre e de sentimentos nobres, que tem um grande talento para fazer vestidos de alta costura. Quando seu pai é assassinado, é ela quem acaba assumindo a responsabilidade de criar sua família. Ainda desolada pela morte de seu pai, María Dolores precisa ainda lidar com sua demissão de uma oficina de alta costura onde trabalhava, justamente por se opor ao assédio a que ela e outras costureiras eram submetidas por Jacinto, seu supervisor imediato.

No entanto, enlutada e com dívidas, María acaba tendo que reconsiderar voltar à oficina, já que o futuro de sua mãe Esperanza e Clara, sua irmã, dependem dela. Quando finalmente decide denunciar Jacinto, acaba conhecendo Maximiliano Bustamante, um advogado atraente e muito honesto, que fica profundamente chocado com sua beleza e se oferece para ajudá-la na questão do assédio.

Embora haja atração entre eles, ambos têm compromissos sentimentais. Ele está prestes a se casar com Maleny, uma garota da alta sociedade mimada e caprichosa que realmente não o ama e também o está traindo com seu professor de tênis - enquanto María Dolores; é a namorada de Daniel Santibañez, um jovem sem escrúpulos, que a trai, e pensa somente em dinheiro. 

Daniel na realidade está noivo de Ivana, uma jovem milionária e fisicamente pouco atraente aos seus olhos, que o ajudará a evitar a ruína de sua família. Porém, antes de se casar com Ivana, Daniel deseja ter María Dolores a todo custo e torná-la sua. Para isso acaba recorrendo a um casamento “falso”. E ele consegue enganá-la. Pressionado por sua mãe a se casar com Ivana, Daniel abandona María Dolores à sua sorte e pior, a deixando-a grávida. Por sua vez, Maximiliano termina o noivado com Maleny ao descobrir que ela não é a mulher que ele pensava que era.

Desiludida, María Dolores tenta seguir com sua vida e criar o filho que está esperando, mas Daniel continua procurando por ela para forçá-la a continuar com ele. Sem retorno afetivo, Daniel a estupra, e na ânsia de ajudar a amiga e sua grande paixão, Julián tenta interceder e acaba sendo morto por Daniel, que para fugir do crime coloca a culpa em Maria Dolores, a mãe de seu filho que acaba de estuprar.

Ivana testemunha o assassinato, mas não diz nada pois acredita que María Dolores é uma mulher má. Desta maneira, ela é levada para a prisão, onde dá à luz seu filho, que entrega a Esperanza e Maximiliano, implorando que o protejam. Apesar de todos os esforços de Maximiliano, Daniel consegue manter a guarda do menino. 

Maximiliano se dedicará a provar que María Dolores é inocente, o que eles não imaginam é que durante o processo ambos reconhecerão que estão apaixonados. Ivana é a única que poderia contribuir com a inocência de María Dolores, e ela concorda em testemunhar contra o verdadeiro assassino, mas em troca deseja que Maximiliano se case com ela. 

María Dolores recupera sua liberdade, mas sua felicidade fica manchada quando descobre que Maximiliano também a traiu e vai se casar com outra. Ela só entende o sacrifício de Maximiliano, até que sua mãe e irmã explicam as razões pelas quais ele fez isso. Agora María Dolores está disposta a lutar incansavelmente contra sua rival, para recuperar seu filho e o homem que ama, que lhe devolverá a confiança, o desejo de amar e acreditar novamente nos homens.

Confira o trailer


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Azela Robinson, Alejandro Camacho e Fabiola Guajardo em pôster promocional da novela 'Yo no creo en los hombres'. Créditos: TelevisaUnivision

Roteiro

Original da escritora Caridad Bravo Adams, a versão de 2014 de "Yo no creo en los hombres" leva a adaptação de Aida Guajardo (Para volver amar) com a colaboração de Felipe Ortiz, sendo por sua vez, baseada na tradução de Marcia del Río (Mi Corazón es Tuyo) responsável pela remasterização da obra de 1991 estrelada por Saby Kamalich, Martha Navarro e Bruno Rey.

Com pouco mais de 120 capítulos, Aida Guajardo foi inteligente ao mesclar no roteiro todos os cenários possíveis para afugentar o telespectador em um jogo de intrigas e conflitos, onde a mocinha, defendida por Adriana Louvier sofre os mais diferentes processos de injúria, violência, descrédito e desamor. É uma tradução extremamente aflorada do sofrimento da mulher na sociedade em pleno século XXI.


Créditos: TelevisaUnivision. Arte: @Hiago__Junior

O texto é rápido e conciso, não apresenta grandes furos e pode facilmente ser compreendido. É uma novela com poucos núcleos e que se destaca pela forte presença de vilões e vilãs, aliás, essa é a marca da produção. Aqui não existe aquele enredo de "circunstâncias da vida" - pelo contrário; é tudo feito por simples e pura maldade. E talvez nesse sentido a protagonista acabe se tornando aos poucos uma figura menosprezada e diluída na trama, muito devido ao excesso de vilanias que ela sofre no decorrer dos capítulos. María Dolores é peça-chave, porém sua confiança exacerbada a cega em muitos momentos, a fazendo cair em trapaças que facilmente poderiam ser evitadas por um sentimento mais racional, metodologia que poderia ser facilmente atribuída a personagem devido ao seu passado tempestuoso e cercado de sofrimento. 
Porém esse amplitude não atrapalha a experiência do espectador, vez que, apesar desse sentimento de opressão, María Dolores é sim uma mocinha otimista e que está a todo instante em busca de justiça, para si e os seus.

Adriana Louvier e Flavio Medina em cena da novela 'Yo no creo en los hombres'. Créditos: TelevisaUnivision

A composição textual de Guajardo e Ortiz não se restringe somente a temática feminista, como também adentra na abordagem de temas de difícil aceitação. O estupro, por exemplo, é uma das ferramentas utilizadas pela adaptação para criar camadas densas ao entorno do núcleo principal, que conta ainda com argumentos que levam ao luto, prostituição, suicídio, assédio moral, sexual e também ao aborto. A princípio "Yo no creo en los hombres" parece ser uma produção extremamente melodramática (em toda sua essência) e de fato ela é, todavia, existem em seu corpo inserções de alívio cômico, recurso pouco explorado, mas que ajuda na manutenção do folhetim.

Embora seja uma novela "pesada" o roteiro é eficaz ao introduzir conteúdos de forma aberta; a sexualidade do personagem Gerry (Pablo Perroni), por exemplo, é livremente abordada e contestada pelo seu núcleo - tal qual uma sequela da vida fora do ficcional - onde Ivana (Sonia Franco) acolhe o colega de trabalho, chegando até considerar ter um filho com o melhor amigo gay que é rejeitado pela tia Susana (Elizabeth Guindi) em uma perspectiva bem próxima da realidade.

A presença dos vilões e antagonistas são viscerais durante o desenrolar de todos os capítulos, contudo o contraponto do romance entre os protagonistas é bem duradouro e firme, fator que sustenta o drama do casal: o amor entre María Dolores (Adriana Louvier) e Max (Gabriel Soto) é limpo e bonito de acompanhar, dada as inúmeras renúncias que ambos fazem para enfim conseguirem viver uma paixão única. O texto abraça essa "causa" e em meio a dor, lágrimas e muito suor, faz surgir uma utopia, uma fantasia amorosa.

Gabriel Soto, Sophie Alexander e Lenny de la Rosa em pôster promocional da novela 'Yo no creo en los hombres'. Créditos: TelevisaUnivision

Temáticas

"Yo no creo en los hombres" se alimenta muito do factual, das manchetes de jornalecos policiais, das notas de revista, do glamour das passarelas. Ambientada no mundo da moda, o melodrama tem como principal proposta retratar a figura da mulher na sociedade moderna em pleno século XXI e tudo é difundido de forma ampla e robusta. É neste sentido que casos de assédio sexual e moral surgem ao redor das personagens, além de cenários de violência física, estupros, mansplaining e terror psicológico. O enredo não poupa nas representações, apostando em cenas de puro pânico. Dentre as temáticas exteriorizadas na telenovela constam também o alcoolismo, o suicídio, a gordofobia, o preconceito de classes, o tratamento de Pessoa com deficiência (PCD), entre outros. 

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Adriana Louvier, Flavio Medina e Sonia Franco em pôster promocional da novela 'Yo no creo en los hombres'. Créditos: TelevisaUnivision 

Direção

Toda a narrativa densa do roteiro de Aida Guajardo é abraçada pela direção de cena de Eric Morales, Xavier Romero e Luis Vélez - tanto que é notório enxergar uma espécie de extensão do texto - através da assinatura de uma direção cotidiana e direta, sem interpelações e maquiagens. Eric Morales é feroz em mais uma produção ao lado de Giselle González, sua mão é taxativa e colaborativa, conseguindo imprimir o melhor dos atores. Os traços de sua chancela são facilmente observáveis, principalmente pela proximidade com outra produção do trio, Para volver amar, que também se nutre da mesma seiva melodramática: o drama emocional e tangível. Com discursos de caráter social, Yo no creo en los hombres é visceral na entrega das cenas, como destaque, o suicídio da personagem Maleny interpretada por Sophie Alexander em uma das melhores atuações da atriz, rodeada pelos medos, anseios e sentimento de libertação. Jorge Amaya (Vino el Amor e A que no me dejas) e Lino Gama (En tierras salvajes e Las amazonas) também conduzem um belo trabalho na função de diretores de câmera.  

Sophie Alexander, Flavia Medina e Rosa Maria Bianchi em pôster promocional da novela 'Yo no creo en los hombres'. Créditos: TelevisaUnivision

Produção

Parceria de Giselle González e Julieta De La O, "Yo no creo en los hombres" é sem sombra de dúvidas uma das melhores produções da dupla. A história clássica, bem adaptada e dirigida se destaca exponencialmente por conta do seu elenco, formado por estreantes, consagrados e promessas do teatro e cinema. Uma mistura eficaz que acabou tornando-se uma marca da produtora. Desta vez, em trabalho solo sem o seu amigo e produtor executivo Roberto Gómez Fernández, Giselle se aventura em uma telenovela harmônica, que respeita sua visão dentro da proposta "mulher" e também atinge o telespectador mais saudosista.

Eleane Puell e Jesús Carús em pôster promocional da novela 'Yo no creo en los hombres'. Créditos: TelevisaUnivision

Destaques

Rosa María Bianchi, Azela Robinson e Sophie Alexander apresentam atuações acima da média, não somente por darem vida a vilãs e antagonistas voláteis, turvas e ambíguas, mas pelo conjunto criativo. As personagens mais complexas e de difícil criação, as três são os maiores acertos da novela. Flavio Medina, o viés antagonista de Gabriel Soto é outro destaque positivo da trama. Seu personagem Daniel é um playboy com a mente perturbada, que não aceita a rejeição e vive apenas para atazanar María Dolores, a protagonista. Uma figura de profundidade marcante, Daniel é o estopim para a aceleração cardíaca dos telespectadores. 

A presença de Cecilia Toussaint e Macaria no elenco é um presente ao público, Honoria e Esperanza são mães zelosas e que defendem seus filhos com unhas e dentes. Uma grata surpresa. O mesmo vale para o jogo cênico entre Fabiola Guajardo e Alejandro Camacho, uma carga dramática bem explorada e condizente com a temática em questão. O desfecho do "casal" foi coerente e até diferente do esperado. Estefanía Villarreal viveu com Doris uma experiência única que lhe trouxe até o momento a sua melhor personagem nas novelas. Empática, amiga leal e romântica, Estefanía moldou uma peça criativa intensa - que ao lado de Jorge Gallegos - ganhou ainda mais destaque. O casal Doris e Orlando é até hoje um dos melhores já produzidos pela Televisa.

María Dolores (Adriana Louvier) e Max (Gabriel Soto) em cena da novela "Yo no creo en los hombres". Créditos: TelevisaUnivision

Protagonistas

Gabriel Soto e Adriana Louvier provaram que tem química para dar e vender, tanto é que repetiram a parceria anos mais tarde com "Caer en Tentación". Max é um advogado com senso de justiça e que enxerga a mulher como cúmplice, aliada, visão bem diferente dos outros homens da novela - atitude simples que conectada a humilde María Dolores transborda em afeição. É um casal para torcer do inicio ao fim, mesmo com os inúmeros percursos.

Adriana Louvier e Gabriel Soto em cena da novela 'Yo no creo en los hombres'. Créditos: Tlnovelas

Yo no creo en los hombres no Brasil?

A novela segue inédita tanto na TV aberta quanto nos meios digitais e isso é uma lástima, principalmente quando observado o potencial da novela em uma plataforma de streaming, por exemplo. Carregada de drama, sofrimento e lamúrias, Yo no creo en los hombres é aquela típica novela desenhada para ser apreciada aos poucos e com outra mais alegre a tiracolo. É um folhetim denso, criterioso e com aptidão para ILUSTRAR situações conflitantes de machismo, como reagem, principalmente os homens, quando as mulheres quando decidem dar um basta ao círculo de violência. Se adaptaria na TV aberta? Complicado, mas quem sabe com alguns cortes, não custa nada tentar.


P.S: "Não acredito nos homens" é a tradução literal da novela para o mercado africano, Angola e Moçambique onde a trama foi exibida com dublagem em português através do sinal da Zap Novelas.


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