Aparato do Entretenimento: Uma mudança pontual e necessária: O avanço na abordagem das tramas LGBTs nas novelas mexicanas
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Uma mudança pontual e necessária: O avanço na abordagem das tramas LGBTs nas novelas mexicanas

Barbara Lopez e Macarena Achaga em cena da novela 'Amar a Muerte' - Créditos: Televisa S.A

As novelas mexicanas são parte fundamental da simbologia noveleira no Brasil, trazidas por Silvio Santos através do SBT, as tramas latinas ganharam notoriedade e ascensão em terras tupiniquins e hoje, fazem parte do DNA da emissora.

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Durante muitos anos as novelas mexicanas apostaram em scripts ultrapassados e que quase sempre mostravam a figura da mulher que encontrava a felicidade somente após sofrer inúmeras desilusões amorosas nas mãos de seu parceiro. Tal fórmula não foi abandonada, mas sim, aprimorada e contextualizada. Com um olhar mais aberto para o contemporâneo, os melodramas estão cada vez mais abrindo espaço para núcleos familiares diversos.


A temática LGBT por muito tempo foi abordada de forma cômica nas telenovelas, assim como no Brasil - que através do semblante colorido e espalhafatoso - dava voz a personagens caricatos e engraçados. Sem muito desenvolvimento ou romances ao seu entorno. Na coluna desta semana, junto-me a Camila para escrever sobre a representatividade LGBT nas telenovelas mexicanas com o passar dos anos.

Las Aparício

Produzida pelo canal Cadena 3 e pela produtora ArgosTV. A família Aparício é liderada pela matriarca Rafaela que tem três filhas: Julia, Mercedes e Alma, tendo o mote principal que da maldição que ao casarem acabam viúvas. A história muda quando Julia, interpretada pela atriz Liz Gallardo, coloca em em dúvida sua sexualidade e acaba se apaixonando pela sua melhor amiga, Mariana, lésbica assumida interpretada pela atriz Erendira Ibarra.

Ao longo história Julia se vê num dilema, continuar seu namoro com o até então namorado, ou se deixa-se levar pela paixão que sente por Mariana, mas ela acaba percebendo que o verdadeiro amor da sua vida sempre foi Mariana, passando a enfrentar o preconceito da sociedade e de todos que as rodeiam e também por terem vencido a maldição de se ao se casar, ficar viúva. A história de Juliana (shipp Julia+Mariana), foi pioneira na televisão fechada mexicana, levando uma legião de fãs do casal até hoje mesmo depois de 10 anos da novela, e também por ter mostrado um casamento LGBT na história da televisão Mexicana.

Em 2016 Liz e Erendira voltam a interpretar Julia e Mariana no filme ‘Las Aparício’ originário da novela Las Aparício. Embora não tenha tido o mesmo sucesso da novela, mas foi importante para mostrar o relacionamento de Julia e Mariana depois de anos de casadas, e mostrando a importância da representatividade tanto na televisão, mas como também no cinema.

Este ano em comemoração aos 10 anos da novela, o elenco fez uma leitura dramatizada em uma live do primeiro capítulo da novela, mostrando que mesmo depois de tanto tempo, Las Aparício segue sendo uma produção importante na história da teledramaturgia.

Bienvenida Realidad

Adaptação de uma série chilena com o mesmo nome exibida pelo mesmo canal de Las Aparício. Bienvenida Realidad foi uma novela juvenil que contava a história de adolescentes com várias temáticas, como por exemplo: gravidez, bullying, problemas familiares e sexualidade, esta última tendo mais visibilidade na trama. A temática da sexualidade foi conduzida a partir da história de amor de duas meninas, Mariana interpretada pela atriz Sofia Sisniega e Vanessa, interpretada pela atriz Sofia Espinoza, Mariana era uma menina popular no colégio e Vanessa uma garota problemática que também era vítima de bullying.

A novela recebeu críticas positivas e negativas durante toda sua exibição, mas infelizmente no decorrer dos capítulos foi perdendo ritmo, mas como também as cenas amorosas entre Mariana e Vanessa foram censuradas, cuja censura foi motivo de reclamação por parte dos fãs da novela e do shippe.



Las Trampas Del Deseo

Outra novela exibida pelos mesmos canais de Las Aparício e Bienvenida Realidad, Las Trampas Del Deseo foi uma novela de drama político, policial e psicológico, uma novela cujos os temas foram tratados sem maquiagens. Dentre essas abordagens que foram retratadas na novela, uma das que tiveram destaque foi a história de amor entre Lucia interpretada pela atriz Alexandra De La Mora e Patrícia interpretada pela atriz Bianca Calderón. 

A história de amor de Lutricia (shipp Lucia+Patrícia), começa quando Lucia se apaixonada pela sua melhor amiga e vizinha Patrícia, após o falecimento de seu marido e quando Patrícia decide se separar do seu até então marido. A história das duas foi contada de maneira realista e bem ousada, mostrando cenas calientes entre as duas personagens e ao mostrar o dia-a-dia das duas personagens. A trama foi indicada e ganhou a premiação dos TV Adicto Golden Awards como melhor novela de 2014.

Niñas Mal 

Coprodução México/Colômbia em parceria com a MTV Latinoamérica em associação Sony Pictures com a produção de Argos. Niñas Mal narra a história de adolescentes da classe alta, mas que ao se meterem em graves problemas legais são enviadas para o centro de reabilitação educacional chamado La Casa de Maca, a fim de cumprirem com as legais e se tornarem Niñas Buenas (Boas Meninas). 

A novela tratou de vários temas, como a violência, bullying, crimes, problemas familiares, transtornos psicológicos e de sexualidade, este último tendo destaque na trama. A história de amor de Valentina interpretada pela atriz Patricia Bermúdez e Pía interpretada pela atriz Ana María Aguilera, teve o contraponto que Valentina era uma niña (menina) introspectiva que vivia no seu próprio mundo através do seu iPod, ela acaba batendo em um homem, fazendo com que seja enviada para La Casa de Maca, ao entrar nesse centro conhece Pía, uma menina que foi vítima de exploração sexual, mas ao escapar dessa exploração sexual nunca foi mais a mesma. Pía resolve por si só entrar na La Casa de Maca para se sentir mais segura e uma forma de tentar esquecer esse passado sombrio. Durante a convivência na Casa de Maca ela acaba se apaixonando por Valentina tendo um relacionamento conturbado. 

A trama teve boa aceitação do público e foi composta por duas temporadas, nas quais duas grandes conhecidas do grande público mexicano deram a voz das duas aberturas. A primeira temporada cantada por Belinda com o tema Lolita e na segunda temporada cantada por Danna Paola com o tema Agüita.


O avanço na TV fechada mexicana acabou não percorrendo a mesma velocidade da TV aberta. Dessa maneira, demorou e muito para o plural chegar a TV aberta e de forma natural. Somente em meados de 2017/2019 - que os primeiros personagens LGBT começaram a ter representatividade na principal emissora do país. 

Mas engana-se você que antes disso tudo não tiveram personagens LGBTs nas telenovelas. O produtor Juan Osorio foi um dos primeiros a dar o pontapé inicial - em 1989 - ia ao ar na Televisa a trama ‘Mi Segunda Madre’ produção adaptada pelo escritor Eric Vonn e de forma velada o protagonista Alberto, interpretado por Fernando Ciangherotti acabou tendo um relacionamento com outro homem durante sua passagem pela cadeia. Numa espécie de amor bandido infligido pelo medo. 


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Walcyr Carrasco em 2013 fez muito sucesso com ‘Amor à vida’ trama do horário nobre da Rede Globo, ao trazer como janela ao telespectador um vilão homossexual - Felix - interpretado por Mateus Solano foi o maior destaque do folhetim, no México, uma estética semelhante foi abordada. ‘En Carne Propria’ parceria do roteirista Carlos Olmos com o produtor Carlos Téllez, ambos do êxito ‘Cuna de Lobos’ trouxe em 1991, Sebastián Ligarde como Abigail Jiménez, um jovem homossexual que vivia sendo chantageado pelo vilão da novela Octavio Muriel vivido por Gonzalo Vega na vã tentativa de esconder sua verdadeira orientação sexual.


A composição das duas tramas, mostravam uma ‘censura prévia’ à respeito da diversidade, e tudo era visto com muito tabu. Tanto é que, no anos 90 na Televisa, LGBTs acabaram ganhando papéis de coadjuvantes, na tentativa de alimentar os roteiros com humor - função essa - designada aos personagens ‘coloridos’. São os casos de Toledo (Miguel Pizarro) de ‘Rubí’, Luigi (Sergio Mayer) de ‘La fea más bella’ e Willy (Pablo Cheng) de ‘Salomé’.


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Com a virada dos anos 90 para os 2000, a emissora começou timidamente incluir em seus scripts personagens plurais. ‘Amar Sin Límites’ da produtora Angelli Nesma Medina foi uma delas; Arnaldo Toscano vivido pelo ator Jorge de Silva terminou a novela ao lado do seu companheiro numa cerimônia de casamento. O avanço na abordagem continuou com ‘Alma de Hierro’ folhetim dos produtores Roberto Gómez Fernández e Giselle González que estampou Rafael Inclán como Ignacio, um homem de meia idade que se assume gay em meio ao relacionamento conturbado com sua família. Em 2009 foi a vez de Ulisses e Roberto na trama ‘Sortilegio’ de Carla Estrada, onde Julián Gil e Marcelo Córdoba, inclusive tiveram cenas de sexo mostradas ao telespectador, narrando desta maneira, uma bissexualidade de ambos personagens. No Brasil, Sortilegio sofreu cortes no núcleo em questão, o que acabou desfigurando a história, fazendo Ulisses e Roberto tornarem-se apenas amigos.

Carla Estrada parecia ter aberto as portas para a diversidade após ‘Sortilegio’ - tanto que - José Alberto Castro trazia a emissora uma telenovela ousada: Los exitosos Pérez. Protagonizada por Jaime Camil, no papel de um homossexual não assumido que a certa altura da trama encontra sua paixão, Tomás Arana, personagem de José Ron, e o que parecia inclinar para um final entre ambos, desceu ladeira abaixo. ‘Los exitosos Pérez’ foi censurada e teve o primeiro beijo gay da emissora não apresentado ao público. Retrocesso que só foi corrigido em 2017, em outra trama, desta vez do produtor Eduardo Meza.


‘Papá a toda madre’ levou ao ar o romance sólido de Rafael e Rodrigo, vividos respectivamente por Andy Zuno e Raúl Coronado, de forma cotidiana e sem neuras a respeito do tão esperado ‘beijo gay’. Sem alardes a trama protagonizada por Maite Perroni e Sebastián Rulli ganhou empatia do telespectador e consequentemente o afago da internet. 

Mas é preciso destacar e retroceder, pois outras telenovelas também tiveram romances e/ou personagens LGBTs retratados de forma diferente, são os casos de Felipe e Jorge de ‘El Hotel de los secretos’, Lissandro e Christian de ‘Corazón que miente’, Fede de ‘Caer en Tentación’, Diego e Leo de ‘Qué pobres tan ricos’ - assim como - personagens das séries ‘Como dice el dicho’ e ‘La Rosa de Guadalupe’ que eventualmente retratam a diversidade em seus episódios.


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A abordagem passou a ganhar maior segmentação nos fóruns da Televisa em 2018, são exemplos, Joel de ‘La jefa del campeón’, Gabriel de ‘Me Declaro Culpable’, Por Amar Sin Ley que retratou a violência contra transexuais em um dos arcos de seus capítulos. Mas nada se compara ao que foi observado no segundo semestre de 2018, quando Pedro Damián, Juan Osorio e Carlos Bardasano levaram ao ar suas produções: ‘Like, la leyenda’ 'Mi Marido Tiene Más Família' e ‘Amar a Muerte’. A primeira, obra original, mostrava o cotidiano de um colégio para jovens problemáticos com pais de alto poder aquisitivo e através dessa leitura, Damián apresentou não apenas um, mas dois casais LGBTs - Flavio e Sebastian, interpretados por Bernado Flores e Kevin Rogers, que em certa altura da trama acabou tendo uma terceira pessoa envolvida, Pablo. Manuela e Regina, vividas pelas atrizes Violeta Alonso e Julia Maqueo completam o outro casal da trama que apimentada, sofreu cortes em sua exibição na TV. Acredita?

Contudo, nada foi tão forte em representatividade LGBT nas novelas naquele ano do que o vivido pelas atrizes Macarena Achaga e Bárbara López em ‘Amar a Muerte’ - Juliantina - ganhou forma e corpo na trama protagonizada por Angelique Boyer, dando espaço para uma visão acerca da condição de um relacionamento homo. Elas brigavam, reconciliavam e sobretudo, se amaram. O shippe, Juliantina é até hoje uma marca no cenário, e que ganhará em breve, novas cores e espaços através do cinema e TV. 

Você se lembra do começo da coluna quando dizemos que Juan Osorio foi um dos primeiros produtores a ceder espaço a diversidade nas telenovelas, pois bem, Osorio também foi o responsável por narrar a história de amor de Aristóteles e Temo, interpretados pelos atores Emilio Osorio e Joaquín Bondoni, na condição de casal teen gay. O romance dos personagens foi o grande destaque da 2ª temporada da novela ‘Mi Marido Tiene Más Família’, fato que ganhou não só repercussão, mas o apoio do telespectador. O sucesso foi tão grande que o shippe ‘Aristemo’ ganhou um spin-off em 2019, sob o título de ‘Juntos el corazón nunca se equivoca’ que narrava os acontecimentos do casal no início da faculdade.

Ainda em 2019, Giselle González acabou sendo a responsável por reeditar o clássico ‘Cuna de Lobos’ para o Projeto Fábrica de Sueños, com a faca e o queijo na mão, a produtora optou por mudar drasticamente o enredo da história, assim, ela e sua equipe de roteiristas trouxeram ao público quatro personagens LGBTs. Alejandro Larios (Diego Amozurrutia) e Miguel (José Pablo Minor) em um romance às escondidas da sociedade, além da paixão obsessiva de Gelica (Azela Robinson) pela sua patroa, Catalina Creel (Paz Vega). O tempero para o caos foi o desfecho dos casais, que sofreram e desiludiram o público. 

A visão mexicana acerca da representatividade e pluralidade amorosa na TV aberta têm mudado a passos curtos ainda, mas é preciso destacar, que mesmo atrasados e em um país homofóbico, a mudança está sendo semeada.

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Matéria escrita por Hiago Júnior e Camila Júlia


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