A Casa de Campo Azul - Créditos: Juliano Azevedo |
Era uma caminhada tranquila, na natureza, com as tonalidades amareladas do outono. Folhas caídas adubavam a terra, amaciando o passo do peregrino, perdido em pensamentos interiores, buscando respostas que não estavam em nenhuma lista de questionamentos. A mente estava livre, leve, quase vazia, absorvendo a energia das árvores que se preparavam, estrategicamente, para a chegada do frio. Ambos, caminhante e plantas, estavam em silêncio, momento de integração. As dúvidas eram da alma, do coração, das angústias do passado. Mistura de medo, de ousadia, de propósito.
Na cadeira de balanço, crochê acelerado, cantarolando, dona Marilene sorriu convidativa. Ele não a conhecia. Contudo, o jeito dela era familiar. Sexagenária, cabelos finos, encaracolados, em tons de cinza, de branco, misturados com o rosto bonachão. Óculos de leitura pendurado na ponta do nariz, vestido florido. Acenou com a mão, indicando solidariedade. Ofereceu água, café, bolachas água e sal. O homem precisava de um encosto, um descanso. Minutos de conversa. Aceitou a gentileza e, no breve papo, soube quem era aquela senhora.
Pôr do sol, céu vermelho, dégradé laranja e amarelo. Dentro da casa, percebeu a emboscada. A vovozinha virou bruxa. Trancou as fechaduras e pôs trinco nas janelas. Ameaçou o rapaz afirmando que aquela caminhada era inútil, que ele não deveria pensar em futuro, cruzar pontes, seguir o coração em busca de novidades. Haveria pedras, percalços, desafios, dificuldades, fenômenos da natureza para atrapalhar. Até pessoas próximas iriam julgar suas escolhas. Ela estava enfurecida, indicando que o peregrino estacionasse por ali, naquele mundinho escuro e fechado.
Sereno, assertivo em suas decisões, deixou o tempo girar no horário da vida. Respirou profundamente. Olhos cerrados, não se envolveu com a angústia da mulher que gritava. Entendeu que aquilo era a periferia doente dela. Expirou, conectando-se ao seu próprio centro. Nova inspiração, deixou de lado as emoções negativas. Vislumbrava uma luz dourada cobrindo seu corpo, que era curativa. Afastava os medos. Pulmões inflados irradiavam sabedoria. Expirando o ar lentamente, voltou ao centro da certeza pela conquista futurística. Sorriu. Transmitiu beleza após a terceira respiração consciente. Tudo se esclareceu. Dona Marilene, desarmada, acalmou-se. Abriu o semblante, a porta principal, indicando os próximos passos: “é impossível impedir o destino daqueles que têm a consciência do agora, da certeza da individuação. Siga seu caminho sempre em frente, com amor”. E o peregrino se foi, em paz.
Artigo publicado originalmente no site "Blog do Juliano".
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Juliano Azevedo
Jornalista, Professor, Escritor, Terapeuta
E-mail: julianoazevedo@gmail.com
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