Erika Buenfil e Arturo Peniche durante foto promocional da novela. Atores viveram o par de protagonistas da trama - Créditos: Televisa S.A |
No final dos anos 80, a TV mexicana vivia imersa nos clássicos do produtor cinematográfico Valentín Pimstein, falecido em junho de 2017. Entre comédias pastelões, a dramas onde suas mocinhas comiam literalmente o pão que o diabo amassou, surgiu uma telenovela inovadora e que fugia do óbvio.
Preciso da sua ajuda: Qual tema você gostaria de ler na minha coluna do @AparatoBlog na próxima semana?— Hiago Júnior (@Hiago__Junior) February 22, 2020
História
Marisela (Erika Buenfil), é uma garota rica, bonita e inteligente que sente um grande vazio em sua vida. A considera mórbida, parada e triste, mas tudo muda quando conhece Fernando (Arturo Peniche), um homem bom, honesto e de boa família. A paixão é instantânea, Marisela se apaixona e Fernando corresponde.
Tudo até caminhava para ser um lindo conto de fadas, mas a terrível oposição de suas famílias, que por um lado, representada pela figura do pai de Marisela, Miguel (Joaquín Cordero), não quer Fernando como parte de sua família. Ao seu ver, Fernando é simples e não traria um futuro promissor para sua filha. Por outro lado, Mercedes (Margarita Sanz), a irmã de Fernando é a obceção em pessoa, e não quer ninguém ao lado de seu irmão.
Marisela acaba ficando cansada de tudo e todos a sua volta, reclusa e taxada como inferior, decide não ouvir ninguém e assim dar asas ao seu amor, casando com Fernando e vivendo os dois ao lado de Ana, filha do casal. Mas o destino prega presas e na data mais especial, a cerimônia de casamento, Marisela e Fernando são assassinados por Mercedes, que em um ato psicótico destroça a vida de toda família.
Ana (Erika Buenfil), a filha do casal é enviada ao Estados Unidos para estudar e assim tentar esquecer o atentado que ceifou a vida de seus pais. Vários anos depois Ana retorna ao México, junto de sua melhor amiga Sandy (Patricia Pereyra) para viver na casa de seus avós. A semelhança com sua mãe é notória, o que acaba despertando a ira de Paola (Elvira Monsell), sua tia. Rodeada de amor e intrigas, Ana acaba conhecendo Ángel Trejo (Omar Fierro), filho adotivo de seu avô Miguel, um jovem deficiente auditivo que desde criança era apaixonado por Ana, mas que devido a sua timidez nunca conseguiu expressar seu amor.
O amor renasce e junto a ele uma enxurrada de segredos, que a cada nova revelação abala o romance do jovem casal, agora interpretados por Omar Fierro e Erika Buenfil.
Erika Buenfil, Arturo Peniche, Laura León e Alejandra Maldonado em foto promocional da novela - Créditos: Televisa S.A |
Roteiro
Uma trama original de Liliana Abud e Eric Vonn, Amor en Silencio causou imenso impacto no telespectador que acompanhava a novela. Fato notório e relembrado até hoje, a vilã neurótica interpretada por Margarita Sanz acabou matando o casal protagonista em plena celebração de casamento, causando a comoção do público, que desde o inicio torcia pelo enlace dos jovens.
Liliana Abud foi fiel escuderia dos produtores Carla Estrada e Ernesto Alonso nos anos 90, e assinou as adaptações de alguns clássicos que acompanharam a carreira de ambos, no caso de Carla Estrada, sua adaptação mais célebre acabou sendo 'El privilegio de amar' - telenovela que imortalizou a audiência mexicana - e que segue invicta como uma das produções mais notáveis da Televisa. No Brasil, exibida sobre o título de 'O Privilégio de Amar' a obra datada de 1998, foi um retumbante sucesso alcançando altos índices de audiência para a emissora de Silvio Santos. Tamanho empenho e repercussão, acabou fazendo com que o SBT em 2006 revivesse o clássico, agora remodelado através da tradução de Henrique Zambelli, escrita de Anamaria Nunes com colaboração de Maria Lúcia Dahl, Marcelo César Fagundes, Eleusa Mancini e Rogério Garcia, sob a supervisão de texto de Thereza di Giácomo. Intitulada 'Cristal' o folhetim não rendeu os mesmos índices de sua original, mas marcou uma geração de fãs na emissora. Nos últimos anos Liliana Abud acabou se firmando como a principal adaptadora das produções de Salvador Mejía, que assim como ele acabou deixando a Televisa após reformulação da cadeia de TV mexicana. Liliana Abud é da escola de roteiros chamativos e que sabem conduzir bons vilões, tão bem como seus protagonistas. Sua assinatura em 'Amor en Silencio' é a prova viva dos seus sentimentos e atitudes, que mais uma vez marcam território através de uma obra redonda e conclusiva.
Eric Vonn nunca foi de certo modo da Televisa, outro grande escritor e roteirista marcou sua carreira através de diversas passagens por emissoras diferentes, incluindo a Televisa. Eric assinou o roteiro de obras na Telemundo e Azteca, por exemplo. Uma curiosidade importante sobre Vonn é que em 2015 ele remasterizou sua própria obra, ao roteirizar 'A Que No Me Dejas' remake de 'Amor en Silencio'.
Marcia Del Rio, conhecida pelo trabalho nas novelas 'Yo no creo en los hombres' e 'Mi corazón es tuyo' também tem parte fundamental no sucesso, ela foi a responsável pela edição literária.
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Alejandro Frutos, diretor de Câmeras e Miguel Corcega, diretor de cenas assumem a produção com muita cautela e toques de frieza, principalmente no desfecho que permeia seus protagonistas Arturo Peniche e Erika Buenfil. Causando impacto e gerando comentários. Através da bela direção de ambos, a cena tornou-se antológica e ganhou a capa de várias revistas no México.
Erika Buenfil em cena da novela - Créditos: Televisa S.A |
Produção
Carla Estrada é hoje uma das produtoras de telenovelas que ainda permanecem no casting da Televisa, e que mantêm o status de influência. Suas obras, sejam originais ou remakes, sempre apresentam um tempero especial que garantem boas doses de entretenimento ao público.
Com 'Amor en Silencio' Estrada brincou de enganar o público e conseguiu algo grandioso, criar e reviver seu casal de protagonistas. Fato que geralmente foge do script das telenovelas, pois a fuga de público pode ser um fator marcante nestas trocas. A surpresa e expectativa da morte dos protagonistas garantiram a Televisa uma das maiores audiências daquele ano de 1988, funcionando como uma mola no boca a boca dos espectadores da época, que escandalizados com o falecimento de Marisela e Fernando no meio da novela, ficavam se perguntando como a trama iria se sustentar após o fim trágico.
Inteligente e sagaz, Carla comprou os anseios do público e junto ao texto de Liliana Abud e Eric Vonn conduziram uma das melhores obras da Televisa. A trama acaba perdendo um pouco de seu brilho na segunda fase, mas nada que não seja contornado com o retorno de Erika Buenfil.
Saby Kamalich e Joaquín Cordero em foto promocional da novela - Créditos: Televisa S.A |
Semelhanças?
Lendo essa coluna, você talvez associe 'Amor en Silencio' a outra novela, 'Além do Tempo' folhetim brasileiro produzido pela Rede Globo em 2015 através da idealização de Elizabeth Jhin. Em ambas seus protagonistas morrem no meio da novela e abre-se um leque para uma nova fase. O argumento é semelhante, mas as obras são distintas. Elizabeth Jhin em 'Além do Tempo' aborda o espiritismo e a trajetória da alma através do tempo, fato diferente do visto em 1988 com 'Amor en Silencio'. A similaridade das novelas tornou-se ainda mais intensa por conta de 'A Que No Me Dejas' remake de 'Amor en Silencio' que foi ao ar no México na mesma época que 'Além do Tempo' aqui no Brasil.
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