Aparato do Entretenimento: BUFFY: A caça-vampiros e o que a série representa
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BUFFY: A caça-vampiros e o que a série representa

Créditos - 20th Century Fox/Reprodução

"The Vampire Diaries" conquistou uma legião de fãs que ainda bebem do universo da série com o spin-off "Legacies". "Supernatural" não fez diferente - que caçador(a) não morrerá de saudade após o vindouro fim da série depois de 15 anos no ar? E que infância não ficou marcada por tardes de aventuras ao lado de Xena, a Princesa Guerreira? Que fã nunca aspirou sê-la na vida? 

Realmente, existem produções que conquistaram o coração dos jovens brasileiros graças a uma exibição adequada ou íntegra na TV aberta e à disseminação da Internet (e do que ela disponibiliza). 

Sem dúvida, é pela falta dessas duas regalias que "Buffy - a Caça-Vampiros" ("Buffy the Vampire Slayer") é uma série aclamada que o Brasil ainda não aprendeu a amar. 

E, em especial agora que as super mulheres vem conquistando o lugar que merecem no imaginário popular, ele deveria.

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Vivemos hoje uma celebração de empoderamento feminino e a ficção tem ajudado a definir a playlist e o estilo dessa festa. No gênero super-herói, por exemplo, figuras imponentes (todas com nome mais bonito ou que invoca mais respeito) como Jessica Jones, Shuri, Okoye, Mulher-Maravilha, Supergirl e Capitã Marvel vem ganhando destaque inspirando suas espectadoras. De bônus, o número de super mulheres-título na TV e no cinema vem se igualando, aos poucos, ao dos super-homens de sempre.

É trágico, mas não são muitos que sabem disso: a Buffy inspira pessoas - mulheres - dessa mesma forma com proeza há mais de duas décadas. 

Enquanto as heroínas de hoje compõem uma celebração de "girl power", "Buffy the Vampire Slayer" é a celebração em si muito à frente de seu tempo, quando o empoderamento feminino não era uma discussão cultural.


Créditos - 20th Century Fox Television/Reprodução
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Talvez a primeira grande problemática da série seja justamente seu nome. O criador e agora polêmico Joss Whedon já idealizou a heroína (ainda para o filme original) com um nome que não fosse levado a sério de início - exatamente a reação que esse fã que vos escreve pega sempre. Deveria ser um nome estúpido para uma heroína que seria uma resposta às loiras que sempre morriam nos filmes de terror slash.

Quando Whedon teve a chance de transformar a ideia falha no (e distorcida pelo) cinema em série de TV - após insistência da então esposa Kai Cole -, a produtora Gail Berman sugeriu que ele mudasse o título. Whedon insistiu no nome de batismo e "Buffy the Vampire Slayer" estreou uma primeira temporada modesta de 12 episódios em 1997... Afinal, fãs geralmente só se tornam fãs por causa da segunda temporada em diante. 


"Toda garota que desejar ser uma Caçadora será. Toda aquela que desejar o poder, o terá. Caçadoras. Toda e cada uma de nós." Créditos - 20th Century Fox Television/Reprodução

A renovação para uma segunda temporada, depois terceira, quarta e assim em diante, bem como o impacto causado na indústria e nos espectadores, se deu com esse nome mesmo - Buffy.

Diferente da tentativa fraca à comédia de horror que foi o filme de 1992 (que volta e meia ainda pinta no Corujão), a heroína agora era cercada dos horrores sérios da adolescência e do sobrenatural que deveria enfrentar, estudando logo acima de um portal para o inferno. 

Esse centro de convergência mística infesta a ensolarada cidade de Sunnydale com terrores imprevisíveis e inimagináveis, bem como o predispõe a eles. 


"Isso não é amor! Se ele te amasse, não faria isso com você!" Créditos - 20th Century Fox Television/Reprodução

É a Boca do Inferno estando logo abaixo da escola que faz do Ensino Médio, o inferno para muitos jovens, um inferno literal para Buffy e seus amigos. Essa é a primeira de muitas metáforas que "Buffy" oferece e faz o jovem se identificar logo de cara. Foi justamente com essa metáfora que a série começou a transformar a vida do jovem que vos escreve. 

Única do mundo e destinada a enfrentar os vampiros, os demônios e o que diabos mais a Boca do Inferno abaixo da escola cuspisse ou atraísse, Buffy estaria fadada a cumprir essa missão tão solitária quanto as antepassadas - não fosse o diferencial que a manteria viva por mais tempo que elas. O diferencial que implicaria pontos a menos para as forças das trevas. 


"Eu sou a Caçadora. É na minha área que vocês estão brincando!" Créditos - 20th Century Fox Television/Reprodução

Nos amigos Xander e Willow, Buffy encontra um poder maior e mais eficaz que qualquer super poder que lhe tenha sido concebido; no Sentinela/Guardião (toda Caçadora tem um), Rupert Giles, ela encontra o pai que jamais viria a ter. Alguém que é rígido como as regras impõem e que, ao mesmo tempo, as desafia sendo cuidadoso e acolhedor com sua Caçadora.

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"Mudar o mundo só acarreta um probleminha..." Créditos - Dark Horse Comics/20th Century/Reprodução
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Bem antes da saga "Crepúsculo" fazer muitas quererem ser stalkeadas por Robert Pattinson enquanto dormiam, Buffy já alertava o seu vampiro Angel que isso poderia não ser muito atraente para uma garota. Em "Buffy", o romance garota adolescente-vampiro serve para mais que apenas derreter o coração do espectador: o amor proibido entre o vampiro e a Caçadora implica a perda da inocência, perda de modo geral e (literalmente) o fim do mundo. 


"Vocês dois não são amigos. Jamais serão. Se amarão até que os matem. Vão lutar, se pegar e se odiar até tremerem, mas amigos não serão. Amor não é cérebro, crianças. É sangue." Créditos - 20th Century Fox Television/Reprodução

No caso do anti-herói Spike (o oposto de Angel), o beijo do vampiro significa a perda da moral e até da identidade para a heroína título. Que seja - aos trancos e barrancos, ela sempre acaba salvando o mundo e a si mesma.

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O que muitos ainda não entendem sobre "Buffy" é que ela passeia entre gêneros. A execução das tramas em uma mescla horror-ação-drama-comédia-fantasia ajudou a elevar a série ao status de aclamada. É através dessa mescla que Joss Whedon (um nerd nato) homenageia tais gêneros. Quando o espectador mergulha a fundo no Buffyverso, ele descobre um mundo não muito diferente de universos como o da Marvel ou DC.  


"A coisa mais difícil nesse mundo é viver nele." Créditos - 20th Century Fox Television/Reprodução

O ponto de partida é uma série de vampiros mas, na prática, Buffy é uma super-heroína em um mundo de possibilidades fantásticas - de criaturas (que ao menos deveriam ser) mitológicas a robôs assassinos; de deusas infernais a esteroides que transformam atletas em Monstros da Lagoa Negra; ou um demônio capaz de fazer a cidade inteira cantar e dançar até entrar em combustão. Não se embarca em "Buffy" sem ter a mente aberta o suficiente para esse mundo.

Na série, as "forças das trevas" nem sempre pintam na forma de um vampiro ou demônio - o adversário pode estar em um namorado controlador à la "O Médico e o Monstro", em um nerd de porão idiota, machista e obcecado, ou militares "especializados" em caçar demônios que não se conformam quando descobrem que uma mulher faz o serviço melhor. 

O adversário pode estar em um membro da Gangue do Scooby de Buffy (como a turma se apelida) ou dentro dela mesma. 


"Experimenta". Créditos - 20th Century Fox Television/Reprodução

"Harry Potter" não seria "Harry Potter" sem coadjuvantes roubando a cena e os corações do leitor/espectador a todo momento. Buffy tem seu próprio Rony Weasley em Xander Harris, grande fã e aliado apesar de constantes pré-julgamentos e ocasional cinismo; o fiel escudeiro que acompanha a heroína na jornada, que vive às voltas com encrencas sobrenaturais e que apenas observa a evolução dos amigos enquanto evolui mais devagar. 

Muito antes de Hermione Granger, outra feiticeira nerd e aluna certinha já se sobrepunha à amiga protagonista com um toque de representatividade, ainda inédito na época em que "Buffy" era inédita. 


"Forte, como uma amazona". Créditos - 20th Century Fox Television/Reprodução

Ao longo da série, Willow Rosenberg transcende de melhor amiga quase dispensável à arma mais poderosa da heroína em sua luta contra o mal. 

A personagem é um dos aspectos que fazem de "Buffy" uma série de televisão que muitos jovens que ainda não a assistiram precisam, sem saber que precisam. 


"Essa mulher é mais poderosa do que todos aqueles homens juntos!" Créditos - 20th Century Fox Television/Reprodução
O fato de Willow ser umas das primeiras personagens lésbicas de destaque na TV americana - e que teve a sexualidade retratada de forma natural e real (em o oposição ao sobrenatural e fantástico do "Buffyverso") - torna eufemismo dizer que a ruiva é um ícone LGBT+. 

É por tramas como as vividas por Willow que "Buffy" é algo superior a uma simples "série de vampiros".



"Eu te amo, Willow." Créditos - 20th Century Fox Television/Reprodução

De novo, parece difícil acreditar para quem lê/ouve o nome "Buffy", mas o drama impactou a indústria - a cultuada Shonda Rhimes já declarou que a série a inspirou como roteirista e a fez "redescobrir meu amor pela televisão, por ser algo novo, que nunca tinha sido feito na TV antes. Eu senti que a redescobri". 

Vale ressaltar que todas os dramas de Rhimes são centrados em super mulheres e que "Grey's Anatomy" já teve um episódio musical - uma audácia inaugurada por "Buffy". Não é tão difícil acreditar no impacto após finalizar as sete temporadas.



Os comentários de Rhimes são curiosos considerando outra grande problemática da série: a falta de representatividade e a representação um tanto inadequada de personagens não-brancos fazem "Buffy" ser uma série que não envelheceu bem nesses 22 anos. 

Um defeito não só da maioria das antigas produções de Joss Whedon, como também da indústria de outrora. 


"Mãe?" Créditos - 20th Century Fox Television/Reprodução

Tomando como exemplo a adaptação de "Conto da Aia" (o livro não tem personagens negras) e a futura produção anunciada dentro do Buffyverso (centrada em uma protagonista negra), a falta de representação é um mal antigo que agora Whedon e essa indústria ajudam a aniquilar.

A série surtiu efeito não só sobre a Shondaland - "Smallville", "Dead Like Me", "Wynonna Earp", "Joan of Arcadia", "Veronica Mars", "Charmed", "Supernatural" e a própria "The Vampire Diaries" beberam doses variadas do sangue de "Buffy". Também é ela a responsável pelo formato vilão-da-temporada visto hoje em séries como "The Flash" e "Supergirl". 


"Você nutre amor paterno pela criança e isso é inútil à causa." Créditos - 20th Century Fox Television/Reprodução

A ausência de todas as séries mencionadas acima da lista das 100 Melhores da Rolling Stone não evidencia outra coisa: não é exagero afirmar que Buffy é a 
responsável por tudo o que o jovem gosta de ver na televisão.

Além da aclamação, a série teve direito a uma continuação oficial em quadrinhos (algo que outras também imitariam) pela Dark Horse Comics. A HQ atual da BOOM! Studios é um reboot que traz o universo da Caçadora ao ano de 2019 e a devolve ao Ensino Médio - os anos dourados da série. 

Talvez uma Buffy usando smartphone seja uma oportunidade àqueles que se preferem ficar sem as melhores histórias por não suportar o "antigo".


Créditos - BOOM! Studios/20th Century Fox/Divulgação/Reprodução

Eis que, além da representação e de um Emmy, faltou a "Buffy" a já citada exibição digna na TV aberta ao nível de sucessos exaustivos, como "Todo Mundo Odeia o Cris" e a própria "Xena". 


É indiscutível que, com isso, ela seria apreciada pelo jovem brasileiro como é em países europeus (aonde o elenco vai a todo momento desde que a série estava no ar), ou como merece ser. 


"Sem família... sem amigos... O que lhe resta?"
"Eu."
Créditos - 20th Century Fox Television/Reprodução
Contudo, é pelo que ela representa e proporciona - empoderamento feminino, o sobrenatural como metáfora para os horrores da adolescência e juventude, derramamento de lágrimas, identificação - que vale a pena o jovem de hoje e sempre dar uma chance a Buffy como tem dado a tantas outras heroínas nos últimos tempos, independente de seu gênero. 

Em uma trama envolvendo família, perdas, ressurreição, sacrifício, vícios, conflitos internos e isolamento, se descobre que "Buffy - A Caça-Vampiros" não é um seriado sobre vampiros. 

É sobre a vida.




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