CRÍTICA: "As Aventuras de Poliana: O Filme" encerra jornada da protagonista que cresceu aos olhos do público

Sophia Valverde interpreta novamente Poliana Davila, sua famosa personagem da franquia "As Aventuras de Poliana" baseada no livro de mesmo nome adaptado por Íris Abravanel.

Retomam seus papéis no longa os atores Igor Jansen, que na novela juvenil interpretou João, o melhor amigo e interesse amoroso da protagonista, Duda Pimenta, a Kessya, que durante a história foi a melhor amiga da Poliana e Enzo Kring, o jovem nerd da escola que se torna amigo de Poliana durante seus anos escolares na Ruth Gullar.

Poliana (Sophia Valverde) e seus amigos precisam definir o que farão agora que se formaram. A jovem quer estudar em uma faculdade no exterior, porém Otto (Dalton Vigh), seu pai, não permite que a filha estude fora do país por não achar que ela seja madura o suficiente.

Para tentar realizar seu sonho, Poliana tem uma ideia: trabalhar no Maya Palace, um Ecoresort paradisíaco à beira-mar, para provar sua independência. João (Igor Jansen), seu namorado, Kessya (Duda Pimenta) e Luigi (Enzo Krieger), topam ir junto. Porém, nada no hotel é o que parece ser e Poliana e seus amigos viverão muitas aventuras em uma jornada de autodescoberta e amadurecimento.

Diferentemente da história principal da telenovela, o roteiro de "As Aventuras de Poliana: o Filme" é objetivo em encontrar para si um norte onde consegue desenvolver uma jornada de amadurecimento e conclusão para uma produção que durou longos anos.

O roteiro não busca abrir novos arcos e sim, concluir aquilo que já estava em perspectiva para os personagens, Poliana, já aos 18 anos, continua apresentando sua própria visão de mundo, a ingenuidade da personalidade da jovem ainda é intocável, e é justamente isso que a leva a tomar decisões equivocadas, mas é limitado ao duro confronto da vida adulta, a realidade do mundo que é apresentada a ela se torna maior do que o castelo de cristal que o seu pai Otto, a apresentou, e sua identidade justiceira que é vibrante perante sua vida com seus pais adotivos no circo - ainda não morreu dentro dela, e agora cabe a personagem se encontrar nessas duas versões e combinar a sua escolha profissional em algo que ela possa fazer da vida das pessoas um eterno "Jogo do Contente".

Por falar em Luigi, o personagem continua apresentando a mesma timidez social da novela, cujo a ideia de se divertir e ter amigos ainda é algo novo e fora da sua realidade, mas ao contrário da novela ele se permite viver as experiências de uma maneira leve e divertida, rir das próprias vulnerabilidades e das suas limitações. É muito fofo notar onde Luigi chegou e uma cena que evidencia muito essa maturidade do personagem é claramente ele se declarando para Kessya.

Germana é uma típica vilã feita por Íris Abravanel e me lembrou muito Gigi, a antagonista do filme de "Carrossel", a mulher ambiciosa que atrai a protagonista pra uma teia de mentiras e planos malignos para no final dar um tapa na cara dela e se revelar como a toda poderosa.

Atuação

Sophia Valverde reconheceu a personagem de primeira e isso é a grande conquista deste filme e quem acompanhou "Poliana Moça" vai entender essa afirmação, isso tornou o processo de reconstrução da personagem mais leve e natural para a própria atriz que está mais leve em cena, desfrutando da Poliana dando a ela o desfecho que merece, já que foi a entusiasta do jogo do contente que a colocou em evidência, o carinho que Valverde possui pela Poli é nítido nas cenas e o fato de se reconhecer nela e abraçá-la melhorou em "mil porcento" seu desempenho como atriz.

Jansen amadureceu muito como ator e quem lembra do jovem nas primeiras cenas da novela não o reconhece mais, ele agora está maduro, desenvolto e incisivo em cena, maneja o João como ninguém, ele sabe todas as saídas, os recursos e técnicas que ajudam a compor o personagem. Igor, como bom ator que é encontrou formas nas entrelinhas do texto para mostrar-se mais consistente e dar ao João a vulnerabilidade mostrando sua veia dramática.

Duda Pimenta brilha, encanta, erradia, vibra em cada cena, ela consegue com o talento abrilhantar a menor cena de Kessya com uma desenvoltura invejável pra qualquer atriz de sua idade. Sua suavidade e maturidade ajudou muito a encontrar uma personagem mais solida e empoderada.

Larissa Bocchino é uma das gratas surpresas desse elenco - que com o pouco que tinha nas mãos - uma personagem apagada e rasa conseguiu construir uma performance consistente e natural; dando a Cintia, um propósito e uma proposta clara além do texto escrito por Íris Abravanel.

Babara França brilha com a sua caricata Germana, uma típica antagonista infantil com todo os estereótipos possíveis que compete a esse tipo de personagem, com um arco central no filme, a atriz coloca toda sua força técnica em dosar a personagem em sua construção, apreando-se do humor para dar leveza e sentido humano para a gerente do resort onde Poliana e sua turma vão trabalhar. Uma expertise da intérprete é justamente fugir das limitações do roteiro dando camadas mais profundas nas raízes de Germana, principalmente na relação familiar com seu avô.

Pablo Morais destoa-se no meio do elenco - em uma performance que foi prejudicada pela química completamente nula com Sophia Valverde, visto que a função do seu personagem Leo, é justamente ser o rival de João e potencial interesse amoroso da mesma, mas contrapondo-se a isto, Leo conseguiu ser um típico chaveirinho de vilã, apático e sem função que apenas fez volume no longa. Morais, pode muito mais do que isso, mas o roteiro aqui foi seu principal inimigo.

Enzo Krieger está magistral no filme, maduro com um nível de comprometimento cênico nitidamente potencializado, ele reconhece a si mesmo e isso o ajuda no processo de se sentir-se a vontade para colocar nas inseguranças de Luigi, um pouco mais de confiança e força, mesmo que o roteiro não ajude muito, consegue assim como Duda sobressair-se da superficialidade da redação da autora. Ele é sem duvidas, um dos grandes nomes futuros da dramaturgia, um dos poucos que consegue ter química cênica até mesmo com o lago do resort.

Direção e Fotografia

Com tomadas bem produzidas em locações belíssimas, o filme possui a direção de Claudio Boeckel, também diretor de “Gaby Estrella: O Filme” que teceu muito dinamismo na produção, além da agilidade, transformou o ritmo da produção mais agradável de assistir - o que fez com que a experiência de acompanhar ao longa metragem fosse fácil para o telespectador. A direção cênica foi o principal acerto da questão técnica, exprimido dos atores o melhor de cada um o que contribuiu para a fluidez do filme.

Dito isso, 'As Aventuras de Poliana: O Filme' cumpre bem seu papel de concluir uma jornada de longos cinco anos de produção dando o desfecho digno aos personagens centrais da história, talvez seu único erro tenha sido ignorar personagens da obra original que estavam ligados pelo menos ao núcleo central, mesmo que fossem apenas em menção, mas nada que comprometa a experiência de assistir um produto de qualidade técnica e de entretenimento. E óbvio completamente nacional.