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CRÍTICA | Mi Fortuna es Amarte: Um conto de fadas contemporâneo sobre resiliência e segundas chances

David Zepeda e Susana González em foto promocional da novela 'Mi fortuna es amarte'. Créditos: Televisa S.A

A Televisa acabou de levar ao ar através do Las Estrellas o último capítulo do sucesso 'Mi Fortuna es Amarte'. Uma produção de Nicandro Díaz González, a telenovela estrelada por Susana González e David Zepeda se revelou com o desenrolar dos capítulos um êxito sem explicações, garantindo ótimas audiências para os principais mercados, México e Estados Unidos - e expandindo seu já, belo desempenho, na reta final com médias sempre superiores a 4 milhões de espectadores.

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No ar desde o dia 08 de novembro de 2021, o melodrama familiar conquistou o público com um enredo simples, cômico, romântico e sobretudo com as idas e vindas do casal Vicente e Natalia. E hoje, juntamente com as queridas Nelly e Raphaela, trago a primeira crítica da novela em solo brasileiro. Siga conosco.

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Cena da novela 'Mi Fortuna es Amarte'. Créditos: Televisa S.A

Sinopse

Natalia Robles é uma linda dona de casa que dedicou sua vida à sua família; na véspera de comemorar seu vigésimo aniversário de casamento, acaba descobrindo a traição de Adrián Cantú, seu marido, que foge com Verónica Alanís, até então sua melhor amiga. Adrián e Verónica criam um plano para fugir após terem fraudado os clientes da empresa imobiliária onde ambos são sócios, juntamente com Mario, namorado de Verônica. Angustiada e devastada, Natalia entra em colapso, justamente por conta que Adrián também a deixa em ruínas, no entanto, no meio de sua situação desolada, ela decide "renascer dos escombros" para seguir com suas filhas Andrea e Regina, mesmo com as adversidades da nova vida sem luxos. Por outro lado, Vicente Ramírez, um homem honesto e trabalhador, sofre a terrível perda de sua esposa Lucía Nieto, em decorrência de um assalto a mão armada, deixando seu filho Benjamín com um trauma que o faz ficar sem falar. Após enterrar Lúcia, Vicente se depara com a surpresa, ele também foi fraudado por Adrián. Desta forma, as vidas de Natalia e Vicente se unem, de uma forma nada amigável; pois ambos são os donos de uma casa simples em um bairro popular, enquanto ele reivindica o dinheiro que foi fraudado, junto com os outros credores, ela, em nome de seu marido, e Mario, pedem tempo para compensar os danos econômicos e que possam usufruir da mesma moradia para que não fiquem na rua. Agora, juntos, terão que viver em família e enfrentar as dinâmicas de um relacionamento entre classes sociais e costumes distintos.

Natália e Chente em cena da novela 'Mi Fortuna es Amarte'. Créditos: Televisa S.A

O elenco de 'Mi Fortuna es Amarte' é formado por Susana González, David Zepeda, Chantal Andere, André Sebastián González, Sergio Sendel, Carlos de la Mota, Daniela Martínez Caballero, Fernanda Urdapilleta, Ana Bertha Espín, Luis Felipe Tovar, Denia Agalianou, Luz Elena González, Omar Fierro, Lisset, Michelle González, Andrés Vázquez, Dayren Chávez, Rodrigo Brand, Ramses Alemán, Michelle Vieth, Ximena Córdoba, Carlos Mosmo, Ricardo Franco, Said Pichardo, Archie Lafranco, Roberto Tello, Lorena San Martín, Ricardo Silva, Eduardo Liñán, Yekaterina Kiev, María Rojo, Valeria Santaella, María Prado, Hans Gaitán, Diana Golden, Carmen Salinas, Marcos Montero e Nora Correa González, além de participações especiais como Adriana Fonseca e René Casados.

David Zepeda e Susana González em cena da novela 'Mi Fortuna es Amarte'. Créditos: Televisa S.A

Roteiro

Adaptação da novela colombiana 'La quiero morir', a nova versão agora sob a assinatura do produtor executivo Nicandro Díaz aposta no frescor de um drama familiar, porém não necessariamente em uma comédia pastelão, longe disso, a trama é um melodrama bem segmentado, que tenta a todo custo não cair em vícios de um passado não tão distante, mas que mesmo assim ainda se alimenta do trivial. Sua base é o romance, os conflitos amorosos, as idas e vindas e as vilanias, que nesta remasterização voltam ainda mais cruéis. 

Baseada na criação do escritor Luis Felipe Salamanca, conhecido no mercado folhetinesco latino pelas telenovelas 'Pecados capitales', 'Amores cruzados' e 'Te voy a enseñar a querer' - Mi Fortuna es Amarte leva a adaptação para televisão aberta mexicana do roteirista Juan Carlos Alcalá, principal nome por trás das novelas produzidas especialmente pela produtora Angelli Nesma na Televisa nos últimos anos, tais como: 'Tres veces Ana', 'Me declaro culpable', 'Que te perdone Dios', 'Abismo de Pasión' e 'Lo que la vida me robó'. Ao seu lado, Alejandra Díaz Barrios (La malquerida/Vino el Amor) e José Rubén Núñez Gil.

É perceptível a mão de Alcalá na adaptação, graças as inserções dramáticas e os vilões extremamente 'pedra no sapato'. É uma espécie de assinatura do escritor, que neste projeto foi ainda mais corajoso, ao criar uma vilã que atua como uma 'bomba psicologicamente negativa' na mente de uma criança e que despertou uma discussão sobre limites. Fora todo o torpor, a telenovela possui vários enraizamentos, que se distribuem em núcleos cômicos, de mistério, românticos e até de teor social - o que acaba alimentando a produção e contribuindo para que a trama, já curta, não caia em repetições e furos de roteiro. Embora seja uma situação bastante difícil de ser adotada.

‘Mi fortuna es amarte’ fecha seu ciclo na TV aberta mexicana com uma história com elementos não tão originais, e não apenas por se tratar de um remake, mas por trazer conflitos da convivência forçada de classes sociais distintas, personagens que perdem o status social, o desafio da compra de moradia própria, a comédia familiar. Elementos que já foram amplamente explorados no gênero melodrama. Contudo, graças à forma como é contada, e atualizada, ganha um dinamismo e um frescor que permitem ao espectador não se importar tanto com os elementos já conhecidos. Os capítulos normalmente são bastante ágeis, cativando a audiência. Dentro da proposta de melodrama clássico como foi anunciada, a novela cumpre de maneira satisfatória o planejado, desta forma, o telespectador é agraciado com um romance cor de rosa contemporâneo, através de uma narrativa simples, acessível, dicotômica (bons vs. maus, ricos vs. pobres) e não explicitamente didática, que dependendo do seu gosto pessoal, pode ser um ganho (ou não).

Natalia prestes a quebrar as janelas da casa de Chente, em cena da novela 'Mi Fortuna es Amarte'. Créditos: Televisa S.A

No entanto, ressalvas surgem com o desenvolvimento dos capítulos, dado o empenho da novela em tratar de enviar mensagens de valor e virtude, como é típico nos melodramas clássicos. Sendo assim, em alguns momentos a história deixou de trazer um posicionamento mais claro e necessário (o abuso de Vicente é um exemplo), enquanto em outros foi demasiadamente parcial, tratando pautas de relevância social sem a complexidade e o cuidado necessário. Obviamente, nenhuma telenovela tem a função de criar uma dialética ou ambientação profunda sobre um determinado tema que circunda o drama de seus personagens, contudo se o folhetim se propõe a discutir, é preciso gerenciar com cautela para que não fique nem didática demais e tampouco fantasiosa. Neste atual momento pandêmico em que vivemos, o público quer mesmo é se distrair após um dia intenso de trabalho, e não pensar/teorizar, o desejo é descansar a mente e fluir. O melodrama é um espaço de alienação também, mas é preciso cuidado com o que é apresentado e como é representado sempre.

Michelle González como Olga, em cena da novela 'Mi Fortuna es Amarte'. Créditos: Televisa S.A

A receita de bolo das telenovelas latinas prega até hoje a punição dos vilões como uma questão certa na prova final, mas em pleno século XXI e da história em si; conhecendo o poder de difusão de discursos das telenovelas não foi uma decisão coerente o castigo sofrido pela personagem Olga. Bem como o corte da temática LGBTQIA+. Neutralizar de um lado e pressionar do outro? Não existe lógica.

O aspecto da comédia na novela é algo que merece destaque no roteiro. Quando anunciada, um dos maiores temores era a trama mergulhar em um circo non sense. Em alguns momentos a proposta é realmente essa. Você  até se pergunta: 'Como esse personagem chegou aqui?', 'Em que aquilo agrega na história?', 'Essa frase precisava mesmo ser usada?'... Entretanto, a comédia e o humor são eficazes para dissipar o drama e a atmosfera trágica que servem de base para a novela. Um equilíbrio que funciona bem.

Embora use artifícios já bastante datados é necessário elogiar algumas abordagens presentes na reta final da novela, a começar pela inserção de Natalia e Mario na investigação policial que busca culpar Elías, Verónica e Adrián, criando uma espécie de vingança, situação que ambos buscam, porém de forma diferente. Outro acerto é justamente a falsa morte de Constanza, que para conseguir o que deseja, se sujeitou a ser velada viva em um caixão.

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Susana González e David Zepeda em cena do capítulo 33 da novela 'Mi fortuna es amarte'. Créditos: Televisa S.A

Direção

A direção de 'Mi Fortuna es Amarte' é atrelada a cinco homens: Alberto Díaz (La esposa virgen, Cuidado con el ángel), Ernesto Arreola (Principessa, Monte Calvario, El premio mayor e Carita de ángel), Alejandro Frutos Maza (María Isabel, Amor real, Pasión e Manancial), Alejandro Gamboa (Pasión y poder, Corona de lágrimas) e Isaías Gómez (Cómplices al rescate). Assim como a experiência vasta dos diretores e a mescla de temáticas abordadas, a direção tanto de cena, fotografia e câmeras é um dos pontos assertivos do romance. Em suma: é muito adequada a proposta da novela, com filtros que ressaltam as cores vibrantes, que valorizam o bairro, seus locais mais icônicos, sua estética e calor humano.

Natália (Susana González) e Adrián (Sergio Sendel) em cena do primeiro capítulo de 'Mi Fortuna es Amarte'. Créditos: Televisa S.A

Um exemplo claro: a direção é muito (eficaz e feliz) nas cenas onde o bairro é o principal cenário, é impressionante o nível de detalhes e precisão na decoração das casas da comunidade, a recuperação da estética é ótima, embora a mesma abordagem não funcione com exatidão nas mansões, vide a aposta em decorações minimalistas, genéricas e com pouca personalidade. As locações são críveis e as externas factuais, bem como o uso da tecnologia nos takes de perseguição. O uso de filtros frios e de calor se difundem durante toda a novela, misturando-se a proposta de cada capítulo, como por exemplo, a viagem de Chente e Natália a praia, onde a coloração alaranjada e tons avermelhados são o principal atrativo. E por falar em coloração, a trama é extremamente cromatizada, seja nos cenários, roupas, acessórios - o que reflete o planejamento da novela, ser ampla e aberta para o maior contingente de espectadores. A direção de cena é competente, e explora ao máximo o talento dos atores, sendo até válido somar ao belo trabalho dos diretores o favorável expediente da equipe de casting por escalar atores bons, experientes e criativos.

Pôster promocional da novela 'Mi Fortuna es amarte' no mercado americano. Créditos: Univisión

Figurino e maquiagem

Visualmente as roupas, as peças, os sapatos, acessórios e a estética das cores conversam bem entre si, justamente por recuperar o bairro, a vibe latina, a vibe fashion. É sempre um medo quando a novela também tem como base o cômico, o figurino ficar over demais. Comédia demais, porém o que é levado ao ar é equilibrado. De modo geral, o figurino e maquiagem cumprem o papel de delinear a identidade dos personagens e suas situações e segue dentro da proposta do melodrama clássico. Logicamente abordagens mais realistas, como as vistas nas produções de Giselle González, por exemplo fazem a diferença, porém é preciso sempre observar a "medida" e a qual faixa de público o projeto se propõe. E neste quesito 'Mi fortuna es amarte' é verossímil, ou seja, crível, que parece real para o telespectador, mas nem sempre adentra no realismo, isto é, como as coisas são realmente ou seriam logicamente. Aliás esse é um erro bastante recorrente nas novelas latinas e que não cabe somente a 'Mi Fortuna' onde tudo está impecavelmente maquiado e arrumado o tempo inteiro, faça chuva ou faça sol, deprimido, em luto... Agora trazendo para o cenário da novela em questão: Será que era mesmo necessário apresentar uma dona de casa como Natalia que fica de salto alto a maior parte do tempo, dentro de casa? Que vai no mercado do bairro a pé de scarpin? Que fique registrado é um ponto para se questionar.

Pôster promocional da novela 'Mi Fortuna es Amarte' para o mercado mexicano. Créditos: Televisa S.A

Produção

Após um resultado não tão satisfatório com 'La mexicana y el güero', Nicandro Díaz González recebeu outra oportunidade, produzir junto ao seu amigo de longa data J. Antonio Arvizu V. (Destilando Amor, Mañana es para siempre, Soy Tu Dueña e Amores Verdaderos) uma nova telenovela. A escolhida, um melodrama clássico colombiano sobre duas famílias que sofrem grandes perdas e que acabam tendo seus destinos entrelaçados. 'Mi Fortuna es Amarte' seguiu praticamente o mesmo planejamento de Juan Osorio, que encontrou nos dramas familiares uma verdadeira 'galinha dos ovos de ouro'. A mesma faixa horária, o mesmo público, a mesma vibração. Deu certo.

A produção de maneira geral é bem cuidada, no nível conhecido do Nicandro. Muito atento em cumprir com a proposta inicial, bastante conservador com algumas coisas, um tanto fan service sem comprometer o projeto e sua qualidade. Não apresenta elementos novos e também não se prende somente aos vícios do passado. É uma combinação onde tudo é um grande (ok). O que destoa é justamente a escolha de González, que mais uma vez optou por produzir algo que por muitos anos não foi o seu olhar. O que denota uma visão de mercado e também uma tentativa de diversificar, um abraço ao passado frutífero.

Trilha sonora

Ponto positivo para a variedade de canções que embalam a trama, gêneros diversos estão presentes, com um destaque para aqueles sons e canções preferidos do bairro. O público não fica preso no tema de abertura. As músicas ajudam de forma eficaz na construção da identidade dos personagens, das suas relações, situações e conflitos. Ponto negativo, o tema de abertura merecia pelo menos a presença nas plataformas digitais.


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André Sebastián González como Benja em cena da novela 'Mi Fortuna es Amarte'. Créditos: Televisa S.A

Destaques positivos e negativos

As novelas mexicanas revelaram grandes atores e atrizes mirins no decorrer dos anos, Belinda e Danna Paola, são exemplos. A produtora Lucero Suárez encantou os telespectadores mexicanos em 2020 com o Nicolás de 'Te Doy la Vida' personagem defendido pelo ator Leonardo Herrera e que inclusive foi exibida no Brasil através do SBT. E agora, dois anos depois é a vez de André Sebastián González ganhar destaque. A grande promessa da atuação, escolhido através de um concurso é um talento nato. Dando vida ao Benja em 'Mi Fortuna es Amarte', o filho do protagonista Vicente (David Zepeda) entregou uma alta carga dramática ao personagem, que de longe, é um dos melhores da novela. Benjamín foi testado de inúmeras maneiras, do choro ao riso, da comédia ao lúdico, e em todas as situações apresentou um resultado amplamente satisfatório. Coube ao jovem, inclusive, um dos temas mais importantes da produção: o abuso físico e psicológico - que André conduziu com muita habilidade. André é realmente uma força importante na história. Fez um trabalho impecável fruto da sua sensibilidade, criatividade e parceria com o famoso coach. A ternura que transmite, o sofrimento, a relação com o personagem de Susana. Só amor para Benja. Definitivamente um acerto ao incluí-lo na adaptação.

Michelle González deu vida a maquiavélica Olga em 'Mi Fortuna es Amarte'. Créditos: Televisa S.A

Prepotente, arrogante, falsa, dissimulada, esses são apenas alguns adjetivos que fazem parte da casca dura de Olga, um dos grandes acertos do melodrama. Defendida pela atriz Michelle González, a personagem é um mix de intriga, persuasão e mentiras. A escolha da atriz mais uma vez é bastante assertiva, dado seu resultado satisfatório como Fernanda em 'Imperio de Mentiras' onde também viveu outra 'cobra'. A diferença de imagem e personalidade é gritante, mostrando a destreza da atriz em conduzir mulheres emblemáticas. Michelle ganha mais visibilidade diante do público e vai se firmando como um dos grandes nomes da sua geração, mostrando algo bem diferente dos trabalhos anteriores, marca da sua versatilidade como atriz. 

Chantal Andere como Constanza. Créditos: Televisa S.A

Entre os vilões, todos entregam um trabalho muito bom, destaque para Chantal e Michelle que apresentam performances que nos colocam no limite do ódio com suas ações. Chantal, rosto de tantas vilãs e antagonistas icônicas, mostra saber se reinventar com Constanza. As cenas de drama dela com Natália são uma master class de atuação, dá pra assistir o dia inteiro sem cansar. Atenção também para Denia, que com poucos anos de carreira, atuando fora de sua língua materna e em uma novela com vilãs fortes, conseguiu também existir. Pena que seu personagem não recebeu mais espaço.

Mario e Fernanda, um casal que não teve liga. Créditos: Televisa S.A

Haja paciência para suportar Cláudio, um personagem chato e limitado, que foi mal desenvolvido. Embora não seja um vilão, sua personalidade dúbia contrasta muito bem com eles. Vítima do alcoolismo, o personagem teve seu enredo e caráter social abordado de forma muito breve, ação que caso fosse trabalhada de forma mais gradual e com maior densidade poderia agregar e muito na narrativa. O Fort de France merecia mais, pois o ator é competente.

Seguindo a linha de personagens insuportáveis, Lorenzo, incluído nas últimas semanas da novela como um rival amoroso para Regina e Pepe Pepe também não funcionou. Sua inserção aos 45 minutos do segundo tempo não acrescenta praticamente nada, somente irrita o público. Sorte mesmo é do jovem ator Luis Arturo Rodríguez que conseguiu sua primeira oportunidade nas novelas.

Chole e Tavo estão nas mãos de atores experientes. É um fato. Não cabem discussões. E particularmente, o trabalho do Tovar, é bastante natural, cômico na medida certa enquanto transita entre esses dois mundos (ricos e pobres). Luz Helena como Chole é o símbolo da luta, da garra e da persistência. Uma mulher exemplo, modelo, que deveria inspirar, mas que na trama passou em branco nesse aspecto. Separados já não possuíam elementos tão marcantes, e tampouco receberam o desenvolvimento ideal. Agora imaginem juntos? O casal não teve história, soa como um romance sem graça, faltou melhores contornos, elementos que fizessem o público se empolgar e torcer. Infelizmente faltou.

Contudo, a maior revolta é realmente Fernanda, uma personagem com grande potencial e que foi somente a melhor amiga de Natalia. Uma escada. E isso somado a outro grande equívoco, faz com que a personagem seja um dos aspectos negativos. Qual equívoco? Justamente o seu relacionamento com Mário, que apresentado de forma efêmera e ao temperamento solo da personagem soou como desnecessário ao enredo.

Vinalia: shippe do casal Vicente e Natalia na novela 'Mi Fortuna es Amarte'. Créditos: Televisa S.A

Casal protagonista: química para dar e vender

É preciso ser justo, Vinalia é acerto imenso, é realmente a força da novela. Química e colaboração incrível entre Susana e David. Zepeda que já havia se saído muito bem como Álvaro Falcón em 'Vencer el Desamor', com Chente somente reforça a ideia de que tem se arriscado mais, apostando em personagens diferentes do que costumava interpretar. Aliás, desde 2017 com 'La doble vida de Estela Carrillo' David tem escolhidos bons projetos, destoantes e que mostram sua versatilidade.

Susana entrega outra personagem memorável, agora com uma calorosa recepção do público. Natália é uma personagem complexa, atual, o que permite que muitas mulheres se identifiquem com ela facilmente, em todas as suas identidades (de mãe, de mulher latina, de empreendedora, religiosa...), também com seus acertos e equívocos. Traz características comuns de uma protagonista de melodrama clássico, virtuosa, terna, boa, generosa etc., mas sem ser passiva e ingênua. Como plus, um dos seus maiores atrativos é a capacidade de resiliência, de se recompor dos problemas e desafios da vida. Trabalho incrível de Susana que transmite muito além das falas, aqui as expressões faciais, o gestual, a partitura corporal são mobilizadas com êxito, e o resultado final é sempre muito natural, orgânico. Há muitos primeiros planos com a personagem dela e é evidente que como atriz, Susana é capaz de sustentar bastante informação no rosto, no olhar.

A entrega é notória, o projeto foi recebido com muito amor por ambos e muito dessa validação positiva e espontânea fala sobre o sucesso do casal. Os percalços machistas de Chente, encontrados nos primeiros capítulos são quebrados com a chegada de Natalia e sua visão acalentadora - enquanto toda a segurança de Vicente é recebida com carinho por Natalia. É uma conexão que transcende o amor e a amizade, é uma cumplicidade que instiga, que abraça.  

David Zepeda e Susana González, uma pareja que deu certo. Créditos: Televisa S.A

'Mi fortuna es amarte' é uma novela que encanta pela simplicidade, alguns giros inesperados na história, personagens memoráveis no geral e, sobretudo, pelos discursos de segundas oportunidades, da importância de saber se reinventar, do valor da união familiar e do calor humano das comunidades. 
Seus casais possuem desenvolvimento lento, o que, querendo ou não, afugenta o espectador para acompanhar seu crescimento. É uma produção que conversa com vários públicos, que se adequa ao conservadorismo brasileiro e que traria um frescor a TV aberta. Termina seu ciclo com um resultado satisfatório, cercado de clichês, finais felizes e justiça sendo feita. A cereja do bolo para os mais saudosistas. É o conto, a metáfora da gata borralheira que um dia foi enganada e abandonada, persistiu, reconstruiu e encontrou o verdadeiro amor, aquele que não precisa de amarras. 

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Colaboração: Nelly e Raphaela
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