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Conto: Relacionamento conturbado


Quem me conhece e acompanha meu trabalho, sabe que especializei-me em escrever sobre TV e seus bastidores. Porém sempre guardei a vontade de discursar através das palavras sobre tantos outros assuntos. Visto isso, em decorrência desta necessidade pessoal eu criei aqui no Aparato uma nova coluna. Intitulada "Cada Caso? É um conto!" pretendo criar condições contextuais divergentes. Nada de crônica será apresentado aqui. Apenas contos que retratam uma essência diferente, estórias cotidianas com personagens convencionais. Espero que consiga responder a altura.

Preparados? Então vamos ao conto de hoje!



Conto: Relacionamento conturbado

Meu trabalho nunca foi uma maravilha. Formei-me na faculdade de Administração com louvor, mas devido a crescente demanda do mercado e a falta de aprimoramento sobrou-me apenas trabalhar em telemarketing. Não que não seja uma profissão digna, mas eu poderia render muito mais administrando a empresa de telemarketing onde trabalho. Mas Deus sabe o que faz.

Falei um monte sobre mim, mas não me apresentei. Prazer, meu nome é Kleiton. Sempre morei na zona leste de São Paulo, lá fiz grandes amigos... muitos inimigos. Também foi lá que conheci minha amada Josefina, esposa e amante ao qual presenteou-me com o que mais prezo no mundo, meus filhos: Estevão e Feliciana.

Todo santo dia eu acordo as quatro da madruga. Confesso que para levantar da cama é muito difícil, para se ter ideia meu celular toca tantas vezes que parece uma fanfarra. Pois bem, os próximos passos são os mesmos de  sempre. Banheiro, quarto e cozinha. Não é uma exatidão, mas por volta das quatro e meia estou já no ponto de ônibus esperando minha primeira lotação. Ao todo são três viagens de busão e uma de metrô. Essa vida não é fácil.

Já não é segredo para ninguém que trabalho em uma micro-empresa de telemarketing. E dentre tantas fui cair na pior do ramo, digo isso no sentido de atividade oferecida. Não me levem a mal, mas trabalhar com prestamento de serviço de cartões de crédito é o inferno na terra. Ofensa daqui, injúria dali e assim o mundo segue.

O pior não é trabalhar o dia todo, e sim voltar para casa. Fazer o mesmo trajeto depois de um desgastante período de expediente, deixa-me totalmente de personalidade negra. Chego em casa tinindo, parecendo uma bomba atômica.

Não peço muito a Deus, a única coisa que almejo ao chegar em casa é poder tomar um belo banho sem ser amolado, e depois relaxar. Nesse meio tempo é que entra o meu martírio, sentar à mesa e jantar com minha família.

- Josefina o que temos de bom para janta hoje?
- Por que a pergunta?
- Ah.. por nada, apenas queria ser gentil e puxar conversa com minha amada esposa.
- Sinceramente? Está muito estranha essa conversa. Homem quando começa a bajular a mulher... vem bomba.
- Me poupe né Josefina! Agora não posso mais ser gentil?
- Qual é o nome dela? É do trabalho? Eu conheço essa puta?
- Todo santo dia a mesma coisa! Vida lascada.
- É assim que você me trata? Depois de trabalhar o dia todo a seu favor? Lavar, passar...
- Não entenda mal mulher, mas..
- Chega não quero saber das mesmas desculpas de sempre. A janta está no fogão, se quiser esquente no microondas. Vou deitar, estou cansada.

Não é do meu feitio sair discutindo na frente dos filhos, mas eu não estava aguentando mais. As situações decorrentes a nossas brigas, já me incomodavam de um tanto, que cheguei ao limite. Segui-a até o quarto e bati a porta. As insinuações de infidelidade aumentaram ainda mais meu nível de estresse. Gritei a plenos pulmões:

- Quero o divórcio!

O silêncio pairou no ar. Seu semblante já não era mais o mesmo, deixara de vez as expressões raivosas, dando lugar a uma cara de pleno estado de espanto.

- Juro por Deus que eu tentei, esforcei-me ao máximo para restaurar nosso relacionamento, fazer com que voltasse ao que era antes de começar a desmoronar, mas foi tudo por água a baixo. Reitero... Quero a separação!

Eis que neste momento a porta se abre.

- Papai? O senhor está brigando com a mamãe?

Meus olhos marejaram-se em lágrimas. Neste instante percebi a burrada que acabará de cometer. Esbocei um sorriso, e disse:

- Não minha querida. Papai está apenas conversando com a mamãe. Resolvendo alguns problemas. Faz o seguinte minha princesa, vai na cozinha e pega sorvete pra mim e pra você. 

Assim que ela saiu, virei-me para minha esposa e a confrontei:

- Infelizmente sou um ser humano, e estou suscetível a erros. Errei por não te dar o valor necessário, colocá-la em um pedestal, lugar onde merece estar. 
- Perdoe-me! Fui estúpida ao colocar sua fidelidade em questão, sei que você nunca faria isso. Essa carga que recai sobre minhas costas...

O abraço foi espontâneo, e as pazes inevitável. Aceitamos que devíamos viver um dia após o outro, conviver com os erros e acertos que todo casal enfrenta em uma relação. Por nós, mas principalmente pela família que havíamos constituído. Fazer o bem sem querer nada em troca. Afinal quando se planta amor... colhem-se frutos doces repletos de afeto e admiração.


Até a próxima!

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